A Educação Física no Brasil recebeu o reconhecimento de sua importância por parte do governo federal pelo Decreto Lei 1212/39, que abriu oficialmente no Brasil o curso de Educação Física e, é reafirmada pela na LEI Nº 9.394 /96 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece “ As Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)” , nos seguintes artigos:
Art. 26, parágrafo 3º - “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
Art. 27, inciso IV - “promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais”
Art. 29 - “ A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade.”
Posteriormente a sanção da Lei nº 9696, de 1º de setembro de 1998, publicada no “Diário Oficial da União (D.O.U.)” em 02/09/1998 regulamenta a atuação do profissional de Educação Física e cria os respectivos conselhos federal e regional, determina
em seu Artigo 1º,
“o exercício das atividades de Educação Física e a designação de Profissional de Educação Física é prerrogativa dos profissionais regularmente registrados nos Conselhos Regionais de Educação Física”.
Os artigos transcritos acima não deixam dúvidas quanto a inter-relação da educação com a atividade física e da importância da formação universitária
em Educação Física, para aqueles que trabalhem ou desejem trabalhar com o ensino e a promoção de atividades físicas.
Realizar a promoção do desporto educacional para crianças, requer o uso da criatividade por parte dos professores, que deveriam atuar selecionando estratégias como os jogos infantis, visando o máximo da aprendizagem motora geral, ao contrário de encorajar o uso de gestos e posturas repetitivas que segundo Feijó (1992),
...obrigam todos os alunos, a despeito de suas diferenças somáticas e motoras, a reproduzir os modelos impostos pelos professores e tal massificação mecanicista, além de produzir resultados discutíveis na saúde e no desenvolvimento motor das crianças, causam uma atitude de rejeição as “aulas de ginástica”.(p.17)
As atividades físicas, incluindo-se as modalidades de lutas, não podem e não devem ser efetuadas sem um comprometimento educacional voltado à promoção de um desenvolvimento integral dos seus praticantes. Alguns professores e/ou instrutores de judô parecem não aderir a esta tendência de promover o desenvolvimento globalizado de seus praticantes. É comum, no ensino do judô, a preocupação apenas com a formação física, técnica e tática, sendo as aulas reproduções dos padrões importados de metodologias que estão atreladas à cultura nipônica, trazida pelos imigrantes japoneses, como afirma Mesquita (1994),
O judô, que é um esporte fortemente influenciado pela autoritária cultura japonesa, não é exceção à essa regra. Um certo número de professores acredita que seus trabalhos ainda consistem apenas no adestramento físico-técnico e no disciplinamento autoritário que o judô traz de suas origens feudais, deixando de lado toda uma abordagem educacional que poderia auxiliar o aluno a compreender criticamente a realidade social em que vive. (p.1) .
O judô é reconhecidamente uma atividade física saudável, mas, contudo não deve ser esquecido o seu praticante e principalmente se ele for uma criança. Um ser humano que não expressa seus sentimentos e vontades espontaneamente, limitando-se apenas a realizar os treinamentos impostos pelos professores voltados unicamente ao adestramento físico, técnico e tático poderá estar se anulando como ser participante, criativo e produtivo da sociedade. O ideal seria o professor em suas aulas estar sempre atento aos anseios dos alunos, objetivando com isso mantê-los motivados e fazendo da prática do judô uma atividade saudável e principalmente prazerosa.
As aulas de judô que seguem rigidamente os padrões japoneses, e colocam a disciplina como o pilar magno de sustentação do ensino, podem não favorecer e até mesmo limitar a busca do prazer na realização da atividade.
O lúdico, como fator motivante de qualquer tipo de aula, seja ela desportiva ou não, é algo que surge com a corrente da Motricidade Humana, em Portugal, sobretudo na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa e na do Porto, havendo trabalhos publicados por Carlos Neto e Graça Guedes, que se fundamentam no conceito do lúdico defendido por Huizinga. No Brasil autores como: Batista (s/data), Tani e Colaboradores (1988), Ostrower (1996), Rosamilha (1979), Ribeiro (1994), Soares e Colaboradores (1992) e outros, relatam a importância do lúdico.
O judô infantil na atualidade ocupa uma posição de crescimento constante dentre as modalidades desportivas, é sabido que o judô não possui uma metodologia específica de ensino para crianças, merecendo por isso maiores estudos visando atender esta população, seguindo a tendência da pedagogia moderna que prega a necessidade da motivação e da utilização do lúdico para o bem estar dos seres.
Devido ao fato de não se encontrar muitas citações sobre o lúdico como estratégia de ensino nas aulas de judô, espera-se que os resultados obtidos pelo presente estudo possam contribuir para reflexões e novas pesquisas sobre o tema de forma mais abrangente, e, se possível viabilizar uma atuação conjunta do ensino de judô, com a área de recreação e a partir daí os professores possam elaborar seus programas de aulas na tentativa de facilitar e tornar prazeroso o aprendizado de judô para crianças na faixa etária de 04 à 12 anos.
O pressuposto teórico do presente estudo se baseia na afirmação de Sheridan (1971),
Em suas brincadeiras, uma criança experimenta pessoas e coisas, armazena sua memória, estuda causas e efeitos, resolve problemas, constrói um vocabulário útil, aprende e adapta seus comportamentos aos hábitos culturais de seu grupo social. Brincar e tão necessário ao pleno desenvolvimento do organismo de uma criança, seu intelecto e personalidade , como alimento, abrigo, ar puro, exercícios, descanso e prevenção de doenças e acidentes para sua existência mortal contínua.. (p.11)
Histórico do Judô
A sociedade Japonesa no passado era dividida rigidamente em castas: o imperador, embora despido do poder temporal, era a mais alta personalidade, investido de poderes espirituais. A seguir, vinha o Shogun, uma espécie de regente, que exercia o poder de fato em virtude do seu poder militar. Os Daymios eram os senhores correspondentes aos Barões medievais, e deles saía o próximo Shogun . Os Samurais, que constituíam cerca de 5% da população eram uma casta de guerreiros especializados a serviços dos Daymios. Em escalas inferiores vinham comerciantes e os servos da gleba.
A gênese do judô foi o Jiu-Jitsu, uma arte marcial milenar, praticada por séculos embora sob diferentes nomes, de acordo com a região e época. Segundo Tegner (1969) apesar das divergências de teorias parece haver um acordo generalizado em que os pioneiros a usar técnicas de lutas desarmadas foram os monges chineses, para se protegerem de bandidos. No que todos concordam “é que foi no Japão que a atividade medrou, tomou consistência, colorido próprio, evoluiu” (SILVA, s.d. ,p.17).
Os Samurais eram guerreiros que dominavam as formas de lutas de mãos livres e de técnicas com as mais variadas armas como: a espada, o arco e flecha, o bastão, a lança entre outras, estavam intimamente ligados ao regime feudal japonês e vendiam seus serviços aos Daymios que melhores condições ofereciam jurando-lhes lealdade baseados no Bushido (Via do Guerreiro) onde uma de suas máximas diz “A desonra é como a cicatriz na casca de uma árvore; longe de apagá-la , o tempo não faz se não aumentá-la cada vez mais.” (SILVA ,s/data, p.18).
Com a declaração de abertura dos portos japoneses em 1865, após a imposição do tratado de Comércio “PAZ E AMIZADE” pelo Comodoro Matthew Perry surgiu no panorama histórico uma transformação político-social denominada Restauração do Menji – “A RENASCENÇA JAPONESA” (1868), passando o imperador a assumir de fato o comando da nação, já que até então apenas exercia poderes espirituais como “Sumo Pontífice” do Shintoismo. O Meiji (Imperador) dedicou a máxima atenção ao problema da educação, como afirma Silva (s/data):
... a grandeza de uma pátria repousa na capacidade cultural e honorabilidade de seu povo. ... Foi, portanto uma conseqüência do advento Menji o declínio do Jiu-Jitsu. Os intelectuais e a elite desinteressaram-se pela sua conservação, apaixonados pela cultura do ocidente; o seu ensino torna-se acidental e mercenário. As Forças Armadas atualizaram-se a modo ocidental e o abandonaram. (p.15).
A transcrição acima esclarece que com a influência ocidental, novos processos de ensino e novas técnicas foram adotados pelo povo japonês, que foi importando, copiando reproduzindo da maneira que podia os produtos e comportamentos da cultura ocidental, causando o declínio dos métodos indígenas e valorizando as novidades alienígenas. Quando o autor descreve “As Forças Armadas atualizam-se a modo ocidental” está se referindo principalmente ao aparecimento das armas de fogo que, para os grandes feudos constantemente envolvidos em lutas foi uma grande conquista reduzindo assim a importância do combate corporal e consequentemente a necessidade dos samurais e de seus serviços que eram dispendiosos demais para os feudos, já que os mesmos gozavam de privilégios dentro da sociedade nipônica.
Outro aspecto a ressaltar é o fato dos samurais desempregados “se lançarem pelos diversos países difundindo o Jiu-Jitsu de um modo perigoso e aventureiro.... Autodidatas, apenas meros executantes, improvisaram-se em mestres” (SILVA, s/data, p.15). Nesta década um professor de letras e ciências estéticas e morais japonês chamado Jigoro Kano começou um estudo sistemático das muitas formas de lutas praticadas no Japão, descobrindo segundo Tegner (1969):
... que grupos de praticantes só conheciam e apreciavam uma forma de luta desarmada , não tendo conhecimento de outros sistemas de lutas e nem ao menos os apreciando ... Esses grupos defendiam seu estilo próprio de luta , mais por ignorar outras técnicas, do que pela convicção da eficácia de seu sistema. (p.16)
Jigoro Kano estudou com os melhores mestres do Jiu-Jitsu da época, onde uma de suas preocupações era preservar o prestígio das lutas tradicionais que estava sendo ameaçado pelo surgimento das armas de fogo.
Passado a onda de modernidade, antigos costumes voltam a ter seus valores reconhecidos, e o professor Jigoro Kano entendeu que o principal objetivo do Jiu-Jitsu não deveria ser a vitória a qualquer custo, mas sim a educação global do homem.
Segundo Gama (1986)
... Jigoro Kano era um jovem professor empenhado na busca de uma forma superior de Educação, imaginou as Artes Marciais como uma contribuição valiosa para o aperfeiçoamento do equilíbrio físico e espiritual do ser humano. Acha que é o momento de iniciar o seu moderno sistema de jiu-jitsu utilizando métodos racionais em benefício das pessoas, da sociedade e do país. Até então, no jiu-jitsu não haviam regras nem técnicas padronizadas; imperava o espírito do SHIN-KEN-SHOBU (lutar até a morte). A finalidade das “academias” era formar combatentes. O mestre após pesquisas e experimentações das antigas formas de jiu-jitsu , transforma-se num sistema educacional de ataque e defesa. Abandonou muitas técnicas por achá-las perigosas, pois o jiu-jitsu era praticado violentamente e os acidentes fatais não eram raros. (p.4)
Jigoro Kano passou vários anos estudando, avaliando, comparando, praticando e fez uma síntese das melhores técnicas de jiu-jitsu , formulou o princípio básico de seu método, a que denominou “Princípio da eficiência máxima”, assim por ele expresso : “ qualquer que seja o objetivo, será melhor atingido pelo mais alto ou mais eficiente uso da energia física e espiritual, dirigida para a realização de um certo e definido fim ou propósito”. Em fevereiro de 1882 criou uma nova arte chamada Judô, que literalmente significa “o modo suave”, estabeleceu normas para tornar o aprendizado mais fácil e racional; idealizou regras para um confronto desportivo, criando em um templo Budista, na cidade de Tóquio a primeira escola de judô chamada “KODOKAN”.
Em uma definição ampla o judô é a Via da Suavidade que conduz ao êxito em qualquer setor da vida; em sentido restrito o judô é um método de preparação física e moral com diversos aspectos: 1) de recreio (desportos), 2) de segurança individual (defesa pessoal), 3) de educação psiquico-somático (exercício físico motivado), 4) de segurança social (arte-marcial).
Gama (1986) descreve que sobre os aficionados do jiu-jitsu:
... ortodoxo da época se orgulhavam da especialidade e tradição de sua escola. Fator de emulação pertinaz e do amor-próprio excessivo, isso despertava o sentimento de competição, fomentado de vários modos , às vezes acompanhado de sentido negativo. A rivalidade entre escolas tornou costumeiros os “ENCONTROS” para decidirem o melhor entre os vários sistemas de cada facção. (p.5) .
Vários judocas foram desafiados para os “encontros” para testar o novo estilo, onde de acordo com Mesquita (1994) o mais célebre foi realizado pela polícia de Tóquio em 1886, e naquele momento ficou definitivamente constatado o grande valor do judô Kodokan. O mesmo autor citando Calleja (1982) esclarece que o resultado deste encontro constituiu-se decisivo para aceitação do judô pelo povo e oficialmente pelo governo japonês que transformou a Kodokan uma instituição pública em 1909, tornando o judô parte integrante dos currículos escolares, com isso o desenvolvimento do judô ganhou um reforço e se propagou rapidamente por todo o Japão.
Durante a II Grande Guerra Mundial, as autoridades japonesas reviveram as virtudes guerreiras da população e o espírito do antigo samurai é despertado em todas as camadas da população, então o que era uma prática desportiva com objetivo educacional, passa a ser ensinado num verdadeiro espírito de guerra.
Mesquita (1994) citando Robert alerta para o fato que após a derrota dos japoneses, os aliados proibiram todas a atividades que se inspirassem no Bushidô (Espírito Guerreiro), e por volta de 1946, o judô começou a ser ensinado para os militares ocidentais em serviço no Japão e estes militares ao retornarem aos seus países de origem serviram de semente reprodutoras, e com isso o judô ganhou o mundo rapidamente.
O judô chegou ao Brasil com os imigrantes japoneses e foi praticado inicialmente nas colônias agrícolas, e aos poucos o público brasileiro foi conhecendo e praticando este novo esporte. Dentro os esportes de luta, o judô foi o primeiro a ter sua própria confederação específica e sendo praticado em todos os segmentos da sociedade com grande apoio das autoridades governamentais da época. Segundo Mesquita (1994) o judô herdou do Jiu-Jitsu uma série de valores e atitudes reforçados pela cultura disciplinadora e fortemente hierárquica do povo japonês e ao chegar ao Brasil trouxe estes traços culturais, atravessou períodos políticos autoritários e recebeu grande apoio das forças armadas onde estes traços autoritários não foram questionados, pelo contrário, foram bem aceitos e incentivados.
O judô atravessou as fronteiras e marcou sua posição na história dos esportes, quando em 1964 foi realizado os XVIII Jogos Olímpicos onde o holandês ANTON GEESINK quebra a hegemonia nipônica e conquista o título de Campeão Olímpico.
De acordo com Gama (1986) a partir deste feito o Judô torna-se verdadeiramente parte integrante da Cultura Universal, como tanto desejara o Professor Jigoro Kano.
2-2 - A Influência da Cultura Japonesa
Para Mesquita (1994) o que se pode observar nas aulas de judô, é uma forma rígida nos padrões disciplinares.
... o professor confunde a sua autoridade de educador, que deveria ser uma ponte para o saber, “com autoritarismo, que o coloca no alto de um pedestal onde o seu poder não é questionável. Obrigando assim o aluno a executar exatamente aquilo que lhe é mandado, tolhendo assim a sua liberdade de refletir e criar. Tudo em função do “ bom funcionamento das aulas” (p.4) .
Esta observação do autor revela que uma grande parcela de professores não se coloca como facilitadores na obtenção de conhecimento, isto é, buscando situações onde os alunos tenham liberdade de criar, pelo contrário se utilizam excessivamente do estilo de ensino “COMANDO”, que tem como característica básica o estímulo e resposta, onde todas as decisões são tomadas pelo professor, competindo ao aluno apenas realizar, seguir e obedecer, obrigado a executar exatamente aquilo que lhe foi imposto, sem oportunidade de questionamentos. A não utilização por parte do professor dos outros tipos de estilos de ensino, encontrados no espectro de Muska Mosston poderiam limitar sua atuação profissional.
Quais os aspectos no papel do professor no processo de instrução, que devem ser considerados como estratégicos para uma aprendizagem mais eficaz e eficiente?
O papel do professor no ensino de habilidades motoras envolve muitas responsabilidades distintas, estas requerem que o professor seja um planejador de instrução, um apresentador de informação, um avaliador do processo de ensino e acima de tudo um motivador. Se ele contraria estes aspectos e se coloca em um “pedestal”, ficará impossibilitado de exercer sua função de uma forma plena.
Em relação ao fato de utilizar-se da ludicidade nas aulas de judô Duncan (1979) em seu livro “Judô para Crianças” orienta:
A ginástica de aquecimento pode ser praticada incluindo pequenas brincadeiras e jogos, mas não devemos deixar jamais que o JUDÔ recreativo penetre no espírito do adolescente, a disciplina, humildade, modéstia e respeito aos mestres não devem ser esquecidos jamais. (p. 13)
Esta transcrição parece sintetizar o pensamento e conduta de uma considerável soma de professores de judô, que aparentemente “vestem” a armadura de Samurai, incorporam o “Bushidô” e ensinam o judô da mesma maneira que se ensinava no século passado, onde a ludicidade não estava em sintonia com o objetivo de formar “lutadores”.
Talvez pelo fato do judô ter sua fase pioneira no Brasil um domínio absoluto dos japoneses, esses professores orientais não trouxeram para o Brasil somente a prática do judô, atrelados a ela, vieram seus costumes e tradições culturais. É comum referi-se ao Dojo que na tradução literal significa “local sagrado de aprendizagem”, como um local “santo” ao qual se deve ter verdadeira veneração e respeito. Há alguns professores que exageram em seus pensamentos e acreditam que o Dojo é uma “sala de meditação onde deve-se criar uma atmosfera de seriedade” (GALAN,1971, p.6). É também o “reduto, o templo sagrado onde praticamos e sempre reverenciamos a imagem do SHIHAN”.(GAMA, 1986, p.40), estas citações revelam o clima religioso e sério embutido na pratica do judô e assimilado de forma dogmática por gerações de professores até os dias atuais.
Em relação ao comportamento dos alunos no Dojo, alguns professores recomendam ao judoca “não falar em voz alta sobre o tatame” (GALAN, 1971, p.12), Virgilio condena “as instalações onde o desleixo nos entra pelos olhos logo ao primeiro contato, onde a falta de ordem, a gritaria impressiona pessimamente” (p. 67). Alguns autores justificam os climas sérios, disciplinados da doutrina do “bom comportamento” através da preocupação com a segurança dos alunos, Reay (1990) determina:
Não haverá conversa ou gritos durante os randoris, nem se deverá falar durante a instrução. O sinal de submissão do judo a uma chave de braços ou estrangulamento é uma ação específica de bater no chão. ... se aos alunos fosse permitido gritar durante os treinos a classe não reagiria quando o instrutor tivesse de dar uma ordem repentina, numa emergência (p.24) .
Mesquita (1994) contestando esta justificativa afirma que este argumento não se sustenta, pois por ele se teria que impedir que “crianças e jovens não dessem gritos quando manifestassem grande alegria ou outros sentimentos”. (p.8)
Como propiciar um ambiente que favoreça o aprendizado do judô conjuntamente com o desenvolvimento globalizado de seus praticantes? Se para alguns professores que geralmente tem em mente o modelo de bom aluno aquele que corresponde à criança que nunca pergunta, não reclama, sempre aceita o que o professor diz, não conversa e nem fica de pé durante a aula, em suma um aluno autômato e submisso.
Será que ocorre em toda a sua plenitude o processo ensino-aprendizagem em aulas de judô ministradas com essa filosofia? Essas aulas seguem as tendências modernas da Educação Física Brasileira? Onde a Educação Física para Ferreira (1997) é movimento, é agir com, pelo e através do corpo, é interagir no mundo com ele. É falar de corpo, de movimento, é falar de psicomotricidade, é perceber a relação que existe entre essas duas áreas do conhecimento humano.
Segundo (FACHADA, 1997) é importante a elaboração de uma teoria psicológica que estabeleça relações entre o comportamento, o desenvolvimento da criança e a maturação do seu Sistema Nervoso Central (S.N.C), pois só através destas medidas se podem construir estratégias educativas, terapêuticas e reabilitivas adequadas às suas necessidades específicas. A psicomotricidade, desta forma, traduz a solidariedade entre a atividade psíquica e motora.
Se não favorecermos o processo de desenvolvimento dos alunos, eles não podem “agir com, pelo e através do corpo”, se as aulas tradicionais a que são submetidos não favorecem este objetivo.
Para Mesquita (1994) o judô traz de seus primórdios estas formas autoritárias e doutrinárias, que o sistema japonês na época exigia “o sacrifício e a obediência sem contestação, para que a ordem e a disciplina fossem sempre mantidas”.(p.6)
O trecho “a obediência sem contestação” reforça o conceito de disciplina, conceito esse que é largamente exigido a um “bom judoca” como fica evidente na afirmação de Virgilio (1980):
... é lamentável que esse mesmo progresso não tenha sido registrado também nos conceitos de disciplina, respeito e fraternidade. Conceitos esses indispensáveis aos judocas e dada a seriedade com que devem ser tratados, também determinam que uma nova revisão seja feita no contexto do nosso judô Esses valores tem sido negligenciados, esquecidos e abandonados por grande parte de nossas academias, por professores, principalmente os mais novos . Estes são mais suscetíveis às influências de outros esportes menos rígidos na observância desses valores e também, das condições atuais de vida, quando esses valores, já não são colocados no destaque que merecem no conceito cívico e desportivo. (p.61).
O autor acima requer uma revisão no contexto do judô, pois acha que os conceitos disciplinares estão sendo abandonados pelos novos professores que sofrem “influências de outros esportes”. O que se observa é o desejo do autor em manter as formas tradicionais do judô sem uma devida evolução e consequentemente uma reestruturação do sistema de ensino, como é de se esperar de qualquer atividade que queira cumprir seu papel na formação de seres plenos física, psicológica e intelectualmente.
No entanto não se pode negar a importância da seriedade como fator educacional, seriedade essa necessária ao processo de ensino, onde a disciplina é utilizada como um conjunto das prescrições ou regras destinadas a manterem a ordem e regularidade do objetivo traçado. A disciplina deve existir nas aulas de judô, mas não de uma forma tirana e castradora, como se observou anteriormente nas várias transcrições de diferentes autores.
2.3 – Espaço x Criança
Atualmente, na sociedade moderna, não sabemos se o espaço é de convivência ou de individualismo. Velasco (1977) afirma:
... as cidades parecem um mosaico: número incontável de indivíduos que correm e se acotovelam em todos os espaços. No entanto cada um faz, pensa, fala e age a sua maneira, diferente dos outros. Poucos se lançam criativamente a construir um espaço humano, solidário, um espaço para a convivência.” ( p.20) .
Onde ficam as crianças neste contexto? O mesmo Velasco (1977) esclarece:
A realidade infantil é constituída de magia. O jogo, as brincadeiras e o faz-de-conta para as crianças são como os sonhos para os adultos. Isso que a criança brinca é coisa séria, é como a criança constrói a si mesma, a sua identidade e o mundo que a rodeia. Ela precisa de espaço e tempo para esse “crescer”. (p.20)
Para Miranda (1983) o brincar para a criança é coisa séria, aquele que os proíbe, proíbe os meios de desenvolvimento físico, superiormente fornecido. A atividade dos jogos para os quais os instintos nos impelem é essencial ao bem-estar do corpo, a construção da personalidade e ao conhecimento do mundo externo e interno. Portanto é de suma importância a criação de espaços onde as crianças possam se relacionar, aprender, criar e principalmente brincar.
O que impede os professores de judô de criarem em suas academias esse espaço? Este impedimento poderia estar relacionado à antiga visão formalista e autoritária do judô, ainda não bem refletida e analisada pelos atuais professores.
A formação de “combatentes” era a função das “academias” da época, lamentavelmente observa-se atualmente que alguns professores continuam com este firme propósito de formar “samurais”, isto é formar guerreiros que representem suas academias, clubes, escolas etc. em campeonatos de judô, com o objetivo único e exclusivo de conquistar uma medalha e/ou troféu que representará o quanto sua agremiação perante as outras é a mais “forte”, e conseqüentemente sua atuação será “valorizada” e sua “competência” como professor será confirmada e elogiada.
2.4 – Motivação x Aprendizagem
Baseando-se no capítulo anterior verificamos que a palavra disciplina tantas vezes citada é conceituada como: “Submissão do discípulo à instrução e direção do mestre; Respeito à autoridade ; observância de método, regras ou preceitos” (AULETE ,1986, p.485). Por de trás dessa “disciplina” ocorre uma grande influência no comportamento dos alunos segundo Mesquita (1994) que cita:
... as aulas de judô fundamentadas em modelos autoritários não produzem apenas aprendizado de técnicas, mas também influenciam no comportamento dos alunos, pela punição, hierarquização e adestramento. Esses modelos tornam o processo pedagógico autoritário, tirando muitas vezes o prazer do aprendizado, o que pode acarretar até no abandono da atividade pelo aluno. (p.26).
Analisando a citação acima, fica evidente que a ausência do prazer na realização das atividades é prejudicial ao processo ensino-aprendizagem, podendo até mesmo acarretar no abandono da atividade.
Na concepção de Rizzo Pinto (1997) o ato motor é capaz de dar prazer ao homem, “mas não aquele que o fadiga e oprime na relação escravizante de um trabalho mal-remunerado,, nem a repetitiva execução de gestos fatigantes, resultantes das ações ditas “pedagógicas” ( Em sua maioria realizadas com o aluno sentados)” (p.193)
Estas atividades não dão prazer e nem constróem um saber ou hábitos morais válidos para a criança. Seria necessária uma maior reflexão quanto às metodologias e estratégias de ensino do judô, pois da mesma forma que a Educação Física sofre constantes mudanças, o judô não pode se manter na retaguarda e fora dessa evolução, acreditando que possui apenas como tarefa principal o desenvolvimento muscular e estético, provocando a execução de exercícios através da mecanização e do adestramento do movimento.
Um profissional que atue em área ligada à atividade física pode e deve propiciar aos indivíduos experiências corporais mais ricas, que auxiliem o seu crescimento, nesta relação tão necessária do corpo com o meio e com o outro, “derivando numa progressão harmônica, e tão necessária ao equilíbrio humano”.(FERREIRA, 1997, p.10).
Rizzo Pinto (1997) também declara que não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer, “não há aprendizagem seja no terreno da educação, seja no da reeducação, sem o lúdico, e este está distante de nossos procedimentos didático-pedagógicos, em que a corporeidade e desconsiderada”.(p.336)
Se não há aprendizagem sem o lúdico, a motivação através da ludicidade parece ser uma boa estratégia para auxiliar na aprendizagem como podemos observar na afirmação de Mednick (1983):
É evidente que precisamos de ambas as coisas, aprendizagem e motivação, para o desempenho de uma tarefa. A motivação sem aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade à cegas; aprendizagem sem motivação resultará, meramente em inatividade, como o sono.(p.21).
A compreensão e o uso adequado das técnicas motivadoras podem resultar em interesse, concentração da atenção, atividade produtiva e atividade eficiente de uma classe, para Campos (1986) a falta de motivação conduzirá a aumento de tensão emocional, problemas disciplinares, aborrecimentos, fadiga e aprendizagem pouco eficiente da classe.
Rizzo Pinto (1997) questiona “Por que não se servir do jogo, em suas múltiplas utilidades, para facilitar a aquisição de novos símbolos, de novos conhecimentos?”
Aprendizagem de um ponto de vista funcional é a modificação sistemática do comportamento que ocorre como um resultado da prática e constituindo uma transformação relativamente permanente. A ludicidade poderia ser a ponte facilitadora dessa aprendizagem se o professor de judô pudesse repensar sobre sua forma de ensinar relacionando-a com a nova tendência da Educação Física.
Segundo Fachada (1997) autores como Piaget e Vigotsky entre outros vieram contribuir no estudo sobre o desenvolvimento do intelecto através do movimento, levando em consideração as teorias do construtivismo e da relação sócio-interacionista respectivamente.
É importante que o professor de judô tenha uma visão humanista e progressista da Educação Física contemporânea, assumindo um papel mais amplo, papel esse de educar e promover o desenvolvimento do educando, estimulando as três áreas inerentes aos comportamentos da natureza humana, segundo a visão pedagógica: Cognitiva, Afetiva e Psicomotora. De acordo com Fachada (1997) atualmente considera-se um curso de Educação Física bem equilibrado, quando ele contém em seu planejamento objetivos comportamentais relacionados com todos os três domínios isto porque se pretende através da atividade física fazer com que os alunos desenvolvam-se integralmente. Segundo Ferreira (1997) é dever do professor favorecer ao homem o seu conhecimento, não só a nível motor, mas em âmbito integral, enquanto ser pensante dotado de emoções, e que interage com o todo social no desenvolver de suas funções, desde as mais elementares até as mais superiores.
Para Campos (1986) tanto os comportamentos aprendidos como os não aprendidos são da maior importância no desenvolvimento dos organismos vivos. Parece claro que o comportamento superior do adulto depende fundamentalmente da experiência na infância e, é papel do educador propiciar “todos os meios a seu alcance para o aproveitamento mais adequado e eficiente de todo o potencial hereditário de cada indivíduo” (p.27).
A ludicidade não se adequaria nessa busca dos meios mais adequados e eficientes para o desenvolvimento dos alunos?
Para Sheridan (1971) é de importância primária o oferecimento de brinquedos, espaços para brincar, tempo para brincar e companheiros de brincadeiras a todas as crianças, e particularmente a crianças deficientes que não tem sua própria assistência.
Teixeira (1970) conceitua recreação como:
...atividade física ou mental, a que o indivíduo é naturalmente impelido, para satisfazer necessidades físicas, psíquicas ou sociais, de cuja realização lhe advém prazer. (p.56)... é tudo que distrai, diverte, fugindo ao comum daquilo que se faz ordinariamente. O normal da criança é, e sempre foi, brincar (p.32).
Motivar seria a palavra chave para o aprendizado? O que é motivo? Etimologicamente a palavra motivo vem do latim “movere, motum” e significa aquilo que faz mover, em conseqüência motivar significa provocar movimento, Campos (1986) define motivo como:
... um constructo hipotético, lógico dedutivo, que se baseia em várias condições antecedentes, um recurso de que o cientista se vale para preencher lacunas no campo da observação, para facilitar uma explicação adequada daquilo que se está produzindo na área da conduta.
A motivação do aprendizado através da ludicidade combateria o tédio de aulas pré-moldadas e repetitivas?
De acordo com Mednick (1983):
Os animais procuram mudanças de estímulo; as pesquisas sobre o tédio provocado por respostas sempre iguais tendem a realçar como fator crítico a fadiga ou a necessidade de repouso. ... É evidente, existe algo mais responsávelpelo tédio do que a simples fadiga. Porém isso não nega o desenvolvimento do tédio; a sua importância para a aprendizagem nunca será por demais realçados. Todos somos lamentáveis testemunhas da necessidade de repetição no material de aprendizagem, de qualquer grau de complexidade. A aprendizagem seria grandemente facilitada se os efeitos da monotonia da resposta pudesse ser reduzidos. ... o maior espaçamento entre itens e entre repetições separadas, produz menos erros e melhor aprendizagem.
O autor acima concorda com a necessidade de repetição no material de aprendizagem em qualquer grau de complexidade, mais também defende a teoria que a aprendizagem seria facilitada se a monotonia da repetição pudesse ser reduzida, talvez com um maior espaçamento entre itens e repetições das atividades.
O tédio provocado por respostas sempre iguais é um fator prejudicial à aprendizagem, portanto a alternância entre a aprendizagem de algum fundamento técnico e a realização de atividades lúdicas, poderiam contribuir para criar o espaçamento necessário entre as atividades e, consequentemente melhorar o processo de aprendizagem.
Velasco (1997) afirma que observar crianças brincando é uma oportunidade privilegiada para tentar compreender o fenômeno do sensível e do inteligível. “A criança brincando não é sensível nem tão pouco inteligível – é motricidade”.(p.17).
Para o autor referenciado acima somos seres motores em corpos locomotores que pela capacidade existimos e pela motricidade nos humanizamos. A motricidade não é um movimento qualquer, é expressão humana, os seres humanos são locomotores, diferentes dos vegetais, que onde nascem permanecem.
Platão citado por Rizzo Pinto (1997) preconizava a importância de se manter a criança em constante movimento:
... até os seis anos, a criança entrasse em atividade lúdica espontânea ... crianças devem manter-se em movimento constante e, de modo nenhum, se deve obrigá-las a ficarem quietas. Isto é contrário à natureza da criança que, a rigor, deveria mover-se ritmicamente dia e noite, como se estivesse num barco (p.158).
Qual a melhor maneira de se manter uma criança em movimento constante, que não seja através do brincar?
Sheridan (1971) define brincadeira como o envolvimento ansioso em esforço físico ou mental agradável para obter satisfação emocional e conclui:
... em sua brincadeiras, uma criança experimenta pessoas e coisas, armazena sua memória, estuda causas e efeitos, resolve problemas, constrói um vocabulário útil, aprende a controlar suas reações emocionais centralizadas em si própria e adapta seus comportamentos aos hábitos culturais de seu grupo social. Brincar é tão necessário ao pleno desenvolvimento do organismo de uma criança, seu intelecto e personalidade, como alimento, abrigo, ar puro, exercícios, descanso e prevenção de doenças e acidentes para sua existência mortal contínua. (p.11).
O autor acima enfatiza a importância do brincar tão necessário ao pleno desenvolvimento do organismo de uma criança, seu intelecto e personalidade, como alimento, abrigo, ar puro, exercícios, descanso e prevenção de doenças e acidentes para sua existência mortal contínua. Brincar, portanto é fundamental para um desenvolvimento pleno do ser humano.
2.5 - A Ludicidade, a Criança e o Judô
Comentando a transcrição abaixo de Huizinga, Rizzo Pinto (1977) chama atenção para o fato de que atualmente o aspecto lúdico estar adquirindo um caráter extremamente passivo, o autor reforça a importância do “Fazer para viver, educar-se em lugar de torcer” sugerindo a utilização da atividade motora que caracteriza a infância: os jogos.
... a grande via é o uso dos símbolos e a sua aplicação educacional pela motricidade, pela atividade motora mais típica e característica do homem, principalmente da infância: os jogos. (p.319) ... o homo-ludens é reconhecido em toda a história da humanidade e, esta atividade lúdica, em suas diferentes formas, sempre esteve presente na história da humanidade. Nos dias atuais, contudo, o lúdico tem adquirido um contorno passivo, que é preciso ser alterado para a atividade. “ Fazer para viver, educar-se em lugar de torcer”, deveria ser um lema a ser cultivado pelo homem moderno. ( p.320).
Feijó (1992) buscando a gênese da palavra lúdico relata: O lúdico tem a origem na palavra latina “ludus”, que do ponto de vista etimológico, “ludus” quer dizer “jogo”, mas se ficasse confinado somente à sua origem, o termo lúdico estaria se referindo apenas ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. O lúdico extrapola esse conceito, o lúdico é uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, segundo o mesmo autor o lúdico faz parte das atividades essenciais da dinâmica humana. A atividade lúdica caracteriza-se por ser espontânea, funcional e satisfatória, onde nem todo lúdico é esporte, mas todo esporte deve ser integrado no lúdico. O esporte antes de ser competitivo é cooperação e visa o benefício de todos, incluindo-se aqueles com poucas habilidades motoras. Portanto apesar de atividade organizada, a matéria-prima do esporte deve ser o movimento espontâneo, funcional e satisfatório.
É importante ao profissional que trabalhe com crianças atentar para os períodos de desenvolvimento humano segundo Piaget, conhecendo as características comuns de uma determinada faixa etária com a qual se pretenda atuar, objetivando assim o desenvolvimento de um trabalho consciente, funcional e satisfatório.
Deveria também o professor observar os aspectos físicos, intelectuais, afetivos e sociais de seus alunos, respeitando sempre a individualidade de cada um e, principalmente atentando para o fato de que a criança não é um adulto em miniatura e consequentemente não deverá ser exigido dela um comportamento além de suas capacidades.
É comum o “professor/técnico” na ânsia de obter “resultados satisfatórios” exigir uma performance exagerada de seus alunos, não atentando para os direitos da criança no esporte, esquecendo-se que acima de tudo vem o questionamento sobre a sua função de educador, que é propiciar o que na realidade a criança esta buscando, isto é, praticar um desporto que lhe traga benefícios físicos, mentais, sociais e principalmente alegria.
Várias citações foram transcritas no decorrer deste capítulo de diferentes autores, onde relatam a importância da ludicidade, da motivação para a aprendizagem:
- “O normal da criança é, e sempre foi brincar” (TEIXEIRA,1970);
- “O brincar para a criança e coisa séria, é como a criança constrói a si mesma”.(VELASCO, 1977);
- “Precisamos de ambas as coisas, aprendizagem e motivação para o desempenho de uma tarefa” (MEDNICK, 1983);
- “Não há aprendizado sem a atividade intelectual e prazer... Não há aprendizagem sem o lúdico... Por que não se servir do jogo, em suas múltiplas utilidades, para facilitar a aquisição de novos símbolos, de novos conhecimentos ?” (RIZZO PINTO,1977).
A análise destas frases justificaria um maior estudo sobre o uso da ludicidade como estratégia de ensino nas aulas de judô para crianças. É notória a popularidade do judô como desporto e como atividade educacional, também é notório que a utilização do lúdico como estratégia de ensino é eficiente e altamente recomendado principalmente no trabalho com crianças. Porque não unir o judô ao lúdico?
De acordo com Feijó (1992) “nem todo lúdico é esporte, mas todo esporte deve ser integrado do lúdico”, segundo o mesmo autor o esporte antes de ser competitivo é cooperação e visa o benefício de todos, incluindo-se aqueles com poucas habilidades. Esta afirmação reforça uma característica do esporte, que é a inclusão de todos que buscam praticar uma atividade física de maneira segura, prazerosa independentemente de buscar resultados competitivos.
O professor de judô deveria questionar-se quanto à sua postura e conduta em relação ao objetivo prioritário de proporcionar aos praticantes de judô um desenvolvimento globalizado e não apenas físico-técnico. Com essa atitude o professor estará realizando plenamente o papel de um verdadeiro educador, que objetiva através do seu conhecimento a promoção na melhoria da qualidade de vida dos nossos semelhantes, atentando principalmente para o fato de que uma criança não é um pequeno adulto e muito menos uma máquina que deve ser ajustada para obter resultados desportivos, ela é um ser humano que está em plena formação e que possui sentimentos, anseios e vontades, portanto requer muita atenção, dedicação, carinho e respeito para que se tornem no futuro seres humanos verdadeiramente humanos isto é, seres conscientes de seus direitos e deveres e que utilizem todo o conhecimento e experiências adquiridas ao longo dos anos de convivência com o judô na contribuição para a perpetuação de um mundo melhor.
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AUTOR: Prof. Francisco Grosso
Profissional de Educação Física (UCB) CREF n°005258-G/RJ
Ms em Ciência da Motricidade Humana (UCB)
Pós-Graduado em Treinamento Desportivo Especialização em Judô (UFRJ/CCFEX/FJERJ)
Pós-graduando em Anatomia Humana e Biomecânica (UCB)
Professor Titular da Disciplina Anatomia Humana Aplicada ao Desporto (UNIABEU)
Professor de Judô Faixa Preta 4° DAN
Membro do Corpo Docente da Comissão de Graus da FJERJ