Do UOL, em São Paulo
O judoca Bruno Cunha, de 21 anos, deve voltar a lutar no meio do ano após meses de inatividade. Só que o drama das lesões, comum a todos os esportistas, foi muito mais sério no caso dele. No auge de sua curta carreira, ele recebeu a notícia de que sofria com uma grave insuficiência renal e precisou de um transplante emergencial para sobreviver e voltar a competir em alto nível.
- Bruno Cunha, aos 20 anos, vivia a sua melhor fase na seleção brasileira quando o drama começou...
- ... e ele correu risco de deixar o judô; o transplante, porém, deu uma nova chance a Bruno na carreira
A história foi uma surpresa fulminante para Bruno. O alagoano estava em suas primeiras competições pela seleção brasileira quando viu sangue em sua urina. Ele procurou o médico da CBJ (Confederação Brasileira de Judô) e foi consultar-se com especialistas.
Depois um intervalo de poucos dias da sua última competição, ele recebeu a notícia de que tinha insuficiência renal em um estágio grave, que deveria abandonar o judô e que ficaria estéril. “A notícia veio no mesmo dia em que eu recebi a convocação para a Universíade [competição que reúne os melhores atletas universitários do mundo]. Foi muito triste, porque a médica não me preparou para nada. Deu a notícia de uma vez”, disse Bruno, em entrevista ao UOL Esporte.
Bruno tinha 10 mg/dl de creatinina no sangue. A substância indica a quantidade de sujeira no organismo e, por consequência, acusa a doença, que não apresenta sintomas. Uma pessoa normal tem no máximo 1,5 mg/dl, e os rins do atleta funcionavam com apenas 10% da capacidade.
O judoca procurou uma segunda opinião. O nefrologista dr. Eduardo Rocha manteve o diagnóstico grave de necessidade de transplante. Só que optou por um tratamento especial para que ele mantivesse as chances de voltar ao tatame.
“A partir do momento que ele teve diagnosticada a doença, o tratamento normal seria tê-lo colocado em hemodiálise. Só que começamos a prepará-lo para o transplante, porque abrir uma fístula no braço para a diálise acabaria com a carreira dele, já que a região não se recuperaria”, disse Eduardo Rocha.
Só que Bruno ainda teve de buscar um doador. Sua mãe se decepcionou ao saber que, ao contrário do que pensava, não tinha um tipo sanguíneo compatível com o filho. A salvação foi seu pai, Romeu Verçosa, de 42 anos, que foi de Alagoas até o Rio de Janeiro para saber se poderia ajudar o filho.
“Ele abriu o exame dele no consultório do médico. Quando ele viu que poderia doar, o olho dele encheu de lágrima e ele disse: ‘Filho, meu rim é teu’. Na hora todo mundo começou a chorar muito”, contou Bruno.
NOVO RIM FICA EM ÁREA ESTRATÉGICA PARA NÃO ATRAPALHAR NOS TATAMES
Eduardo Rocha, médico de Bruno, conta que o cirurgião José Figueiró optou por colocar o rim novo entre alguns músculos abdominais.
Desta forma, ele não vai interferir no desempenho de Bruno nas lutas, que pode ser melhor do que era anteriormente com a doença.
Da descoberta da doença (em julho de 2011) ao transplante foram quatro meses de tensão. Após o procedimento ter sido bem sucedido, ele passou a projetar a carreira novamente. Judoca do Flamengo, Bruno superou a previsão inicial e voltou a fazer trabalhos físicos um mês e meio após o transplante.
Na última semana, ele entregou à CBJ os laudos médicos que o autorizam a voltar a sonhar com o futuro olímpico. Ele volta a competir regionalmente no meio do ano e espera que até dezembro possa lutar em torneios internacionais. O foco final está nas Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.
“Quero ter sucesso para levar a campanha de doação de órgãos para onde eu for. Quando pensarem em transplante quero que lembrem do meu nome. Mais pessoas têm de doar órgãos. Isso salvou a minha vida”, disse Bruno, emocionado.
“O maior risco dele era morrer. O importante do caso do Bruno é que ele chame atenção para as pessoas sobre a doença. Há uma estimativa de que 20% da população brasileira sofra de doenças renais, mas nem todos sabem disso. Por isso é importante que as pessoas façam o teste da creatinina”, disse Eduardo Rocha.