quarta-feira, 16 de maio de 2012

Técnicos que fazem a diferença: o “pulo do gato” do judô, com Rosicléia

Ex-judoca foi estudar para seguir fazendo o que mais gostava e acabou conseguindo a “independência” das garotas, do judô masculino, o apoio para necessidades diferentes e também consistência de resultados, o que dá credibilidade e respeito




A técnica Rosicléia Campos abraça a judoca Maria Suelen Altheman, que conhece desde que dirigiu a equipe brasileira juvenil de judô. Léo Barrilari/GazetaPress
Denise Mirás, do R7
Não foi de repente nem por acaso a primeira medalha brasileira feminina do judô em uma Olimpíada, com Ketleyn Quadros – um bronze na categoria leve (até 57 kg) de Pequim 2008. Naquele momento do 11 de agosto, a técnica Rosicléia Campos pensou – só por um instante…! – que já podia morrer. Que nada. Foram anos de trabalho para o “pulo do gato”, como diz a treinadora, do judô feminino, que deixou de ser uma extensão do masculino para ganhar postura própria. E ainda “há muito caminho pela frente”. Mas Rosicléia está satisfeita principalmente pela constância de resultados, pela técnica e consistência das atletas.
- As conquistas vêm sustentando a realidade que se tornou o judô feminino brasileiro.
Com 11 anos de idade, Rosicléia chegava à academia para aprender judô. Depois, foi atleta do Flamengo e defendeu a equipe brasileira dos 15 aos 30 anos, na categoria médio (até 66 kg). Como judoca, foi à Olimpíada de Barcelona 1992 e à de Atlanta 1996.
Atrás do que queria: continuar no judô
Depois, decidiu que seguiria no judô, como profissional – tem duas pós-graduações, em treinamento esportivo e em judô de alto rendimento – e teve chance de começar na equipe brasileira como assistente de Priscila Medeiros e Geraldo Bernardes.
- Em 2000, fui convidada para ser auxiliar-técnica na Olimpíada de Sydney. Em 2001, passei a fazer parte do grupo de técnicos da CBJ [Confederação Brasileira de Judô], dirigindo a equipe juvenil, e em 2002, a júnior. Em 2005 cheguei à equipe sênior.
Ter acompanhado judocas amadurecendo, física, técnica e psicologicamente fez diferença, sim, na opinião de Rosicléia, que teve ainda como juvenis algumas das principais atletas brasileiras de hoje, como Maria Suellen Altheman (+78 kg), Érika Miranda (-52 kg), Sarah Menezes (-48 kg e que já chegou à equipe principal com apenas 16 anos).
- Foi importante também pela credibilidade no trabalho, mas como técnico quis colocar em prática tudo o que eu gostaria de ter recebido. Claro que era outra estrutura. Hoje, para um atleta ser de alto rendimento e conseguir resultados é preciso dinheiro – o que não havia. Na Olimpíada de 1996 eu não conhecia nenhuma das minhas adversárias – hoje, elas conhecem 100% das rivais e até já treinaram e lutaram com todas elas.
Credibilidade, resultados e independência
Essa postura, diz Rosicléia, foi o que mudou o judô feminino no Brasil: não era mais extensão – tinha se separado e se tornado independente.
- Esse foi o pulo do gato: um judô voltado para as atletas. Hoje podemos aceitar cobranças, porque temos condições de igual para igual, temos oportunidade de nos aprimorar. Antes, não tínhamos resultados porque não tínhamos estrutura, não tínhamos estrutura porque não tínhamos resultado – e ficava assim.
Rosicléia recebeu apoio de Ney Wilson, coordenador técnico da CBJ, de José Roberto Perillier, hoje gerente geral de alto rendimento do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), e Jorge Bechara, do setor administrativo do COB – que “compraram a briga” pela ex-atleta de 35 anos (que agora está com 43). Dessa forma, se tornou uma técnica com visão bem abrangente – não apenas uma treinadora, no tatame, mas com conhecimento no gerenciamento do grupo e também do “entorno” das atletas, com apoio, como exemplifica, nas questões de marketing, de participação em redes sociais.
Diferente em tudo, do físico ao estilo
Além do judô feminino ser diferente, das necessidades ao estilo de luta, outro ponto importante foi “estabelecer” que também era totalmente diferente nos aspectos médico e fisiológico. As judocas agora têm a médica Tathiana Parmigiano, também ex-atleta, que segundo Rosicléia tem linguagem de fácil entendimento, que ajuda com problemas que muitas vezes as judocas nem sabem que existem. Há ainda alimentação adequada, psicóloga, e as judocas “absorveram bem que precisam ser atleticamente fortes, que não é vergonhoso ter braço forte – como na minha época de atleta”.
- A mulher é mais passional, mas também crítica, atenta, comprometida, eficaz, crítica… E nossa equipe é muito forte, bem preparada fisicamente.
Assim, a equipe brasileira feminina foi, com resultados gradativos, ganhando consistência.
- As sete medalhas do Pan 2007, a primeira medalha olímpica feminina com a Ketleyn em 2008, dois bronzes no Mundial 2010, uma prata e dois bronzes no Mundial 2011. Também ganhamos de Cuba pela primeira vez no Pan de Equipes. São conquistas que sustentam o que é o judô feminino hoje.