Treinamento funcional é uma das armas do judô brasileiro. Fisioterapeuta que patenteou método vê o resultado na evolução da seleção brasileira
Por AHE!
Ampliar o horizonte é uma intenção que pode ser bem aplicada à preparação física no judô brasileiro. Com o objetivo de dar mais consciência corporal aos atletas, o treinamento funcional se apresenta com o reforço de uma sequência de exercícios que faz com o que os judocas exercitem muito além dos grupos musculares.
- Esse circuito que eu monto é bem específico para o judô. São exercícios presentes na luta e na modalidade com foco no movimento. Isso porque, no judô, não adianta ser forte e não controlar o movimento. Quem faz força sem pensar é guindaste. Eu quero que essas meninas daqui pensem o tempo inteiro - brinca o fisioterapeuta da seleção Marcus Vinícius Gomes, em entrevista ao AHE!
Marcus desenvolveu uma metodologia chamada MVF (Motricidade Voluntária Funcional), lançada em 2006 e, aos poucos, lapidada para o treinamento no tatame. Na época dos testes, a missão dele era recuperar os movimentos de pacientes que não conseguiam andar, em virtude de sequelas de acidentes. E ele conseguiu.
- Eu lancei com certo receio porque, quando a gente leva a teoria para a prática, há muita dificuldade na implementação. Felizmente, consegui resultados ótimos com a recuperação dos movimentos de uma paciente. Isso me deu muita força para continuar - revela o especialista, que leva o método patenteado para outras cidades e até países, principalmente Portugal, onde o MVF foi certificado como curso de excelência no Instituto Desportivo de Portugal.
Foco no equilíbrio
Depois de muito pesquisar e testar, Marcus formatou um método aplicável ao treinamento e ao tratamento, respeitando os limites de cada disciplina e abrangendo diferentes públicos, desde os sedentários aos atletas de alta performance. Esse é o real objetivo do que conhecemos como treinamento funcional, que prepara o organismo de maneira integral, segura e eficiente, através do centro corporal.
No caso do judô, Marcus seleciona exercícios e movimentos que estejam presentes na luta, destacando a importância do equilíbrio, já que é ele o responsável pela sustentação, enquanto o atleta, usando os braços ou pernas, ataca ou defende. Marcus lembra que, em movimentos de rotação, por exemplo, é muito comum a perda do equilíbrio e é este deslize que o judoca não pode cometer.
- A carga de força está no abdômen, que é o nosso centro de gravidade. Se eu consigo gerar força aqui, eu me mantenho equilibrado para mandar a força para os braços e as pernas. A função primária é a rotação, e se eu tenho a rotação equilibrada, terei potência para dar o soco, chute, me deslocar. Caso contrário, eu caio e aí como eu vou lutar? - pergunta, destacando que as judocas da seleção são prova de que realmente o treinamento funciona.
- É um resultado surpreendente porque posso ver que elas estão pensando, e que o movimento está muito mais inteligente. Muitas das atletas que estão aqui hoje não tinham a menor noção do corpo, e esse é o melhor dos resultados: a consciência corporal.