Saiu uma matéria na revista Tatame deste mês (edição 177). Estou com ela lá em casa. Caso você tenha um amigo ou conhecido praticante de Ju-Jitsu ou Judo, passe adiante se achar interessante.
Em resumo, a matéria explica que o Ju-Jitsu brasileiro é na verdade a primeira versão do judo (que era chamado de Kano Ju-Jitsu), só que por dificuldades de comunicação naquela época (imagina alguém do Japão se corresponder com alguém em Belém-PA 60 anos atrás, cidade onde o professor Mitsuyo Maeda, conhecido como Conde Koma lecionava o então Kano Ju-Jitsu), a notificação para atualização para a segunda versão do Kano Ju-Jitsu (chamado oficialmente então de judô) chegou com algo em torno de 20 anos de atraso ao Brasil, e quando isto ocorreu, as famílias Gracie e Fadda (que são as duas escolas de ju-jitsu brasileiro, a primeira, aluna direta do professor Maeda e a segunda de um aluno brasileiro do mesmo, chamado Luíz França) não adotaram o novo método, continuando com o antigo, mudando os nomes das técnicas em japonês para português e realizando lutas de Vale-Tudo (modalidade esta que ficou proibida para judocas desde aquela época até hoje), entre outros detalhes.
Esta não-adesão ao novo estilo (judô) foi positiva, pois manteve viva várias técnicas deixadas de lado pela grande maioria dos judocas. Nesta edição da revista, existe um artigo retirado de um livro escrito pelo próprio Maeda, onde o mesmo esclarece que o Ju-Jitsu ensinado por ele e o Judo são a mesma arte.
Resumindo:
JU – JITSU = Arte Suave (a grafia ocidental “Jiu” é incorreta pois foi “abrasileirada”. Pode conferir com qualquer pessoa que fale / escreva japonês). Ocorre que na época existiam vários estilos (ou “ryus”, como chamados em japonês) de Ju-jitsu (assim como ocorre com o kung-fu até hoje), e o Dr. Jigoro Kano conseguiu “fundir” a maioria dos estilos da época (em acordo fechado com os mestres de cada estilo) em um único método, então chamado Kano Ju-Jitsu (sistema Kano de Ju-Jitsu), ocorrendo então a fundação do instuto Kododan. Este novo sistema (Kano Ju-jitsu) foi posteriormente atualizado (conforme acima mencionado) e tendo seu nome modificado para Judo. O instituto Kodokan existe até os dias de hoje e tem sua sede em Tokyo-Japão e ainda determina as regras mundiais de conduta no judo.
JU – DO = Caminho Suave. Vide comentários acima.
Para quem não conhece a família Fadda do Ju-Jitsu, aqui vai uma prévia:
Oswaldo Baptista Fadda (Rio de Janeiro, 15 de janeiro de 1921 - Rio de Janeiro, 1 de abril de 2005. Foi um Grande Mestre de Jiu-Jitsu, chegando ao 9º grau (faixa vermelha).
O professor Oswaldo Baptista Fadda nasceu, viveu e morreu em Bento Ribeiro. Homem humilde, conhecedor profundo do Jiu jitsu e o pioneiro a levar a “arte suave” para o subúrbio carioca. Quando, aos 17 anos, era fuzileiro naval da Marinha do Brasil, Oswaldo Fadda começou a treinar jiu jitsu e foi o melhor pupilo do Professor Luiz França, que fez parte do pequeno grupo de alunos do Conde Koma, introdutor do jiu jitsu no Brasil, em 1917, na cidade de Belém, no estado do Pará. No subúrbio em que sempre viveu, com profundo idealismo, divulgou, extraordinariamente, esta modalidade esportiva. Demonstrava, com seus alunos, as técnicas do jiu jitsu nas favelas, praças públicas, praias, morros, circos, pátios de igrejas e clubes, visando à ampla expansão de sua prática possível a todos.
Outra importante atividade, da qual o Mestre Fadda foi pioneiro, era a recuperação, através do jiu jitsu, de pessoas com anomalias físicas e até mentais, principalmente vítimas de paralisia infantil. Bom, com tantos trabalhos voluntários e tendo como público uma comunidade carente, não lhe restava muito capital para investir em publicidade. O máximo que ele conseguia para poder divulgar sua academia era um pequeno espaço na página de óbitos. Então a solução encontrada pelo Mestre para chamar a atenção da mídia foi a de desafiar a poderosa família dos Gracie.
Em 1954, o Mestre Fadda foi aos jornais O Globo e o Diário da Noite e declarou:
“Desejamos enfrentar os Gracie, respeitamo-los como incomparáveis adversários, porém não os tememos. Disponho de cerca de vinte alunos para os encontros”.
Atendendo as expectativas, Hélio Gracie aceitou o desafio, dizendo-se impressionado pelo cavalheirismo do desafiante e garantiu que as lutas iriam ocorrer na própria sede da academia Gracie, no centro da cidade do Rio de Janeiro. As lutas ocorreram no segundo semestre do mesmo ano, mas dessa vez os fatos foram de encontro às expectativas: a academia Fadda superou a academia dos Gracie, surpreendendo a comunidade do jiu jitsu. Destaque para a finalização emplacada por José Guimarães, que deixou desacordado Leônidas, então lutador da Gracie. Ao término do desafio, a Academia Fadda, ganhou expressão e notoriedade.
“ACABAMOS COM O TABU DOS GRACIE” disse Fadda, na época à Revista do Esporte.
Helio, impressionado com a técnica dos lutadores suburbanos, declarou que o Jiu-jitsu não era exclusividade de uma família.
Fadda foi aluno de Luiz França, um dos discípulos do célebre Conde Koma, que também treinou, dentre outros, os Grandes Mestres Hélio Gracie e Carlos Gracie, maiores difusores do Jiu-Jitsu no Brasil.
Em 1942 Fadda recebeu a faixa preta e começou a ensinar Jiu-Jitsu, no subúrbio de Bento Ribeiro, na cidade do Rio de Janeiro. Em 27 de janeiro de 1950, nesse mesmo subúrbio, Fadda fundou sua própria academia.
No ano de 1954, Fadda vai até a Academia Gracie, acompanhando de vários de seus alunos, para uma série de combates com o famoso clã do Jiu-Jitsu. Dentre os combates, houve uma memorável luta entre Hélio Gracie e Oswaldo Fadda, tendo sido a primeira vez que um desafiante derrotou um dos irmãos Gracie.
É preciso existir um FADDA, para mostrar que o Jiu-Jitsu não é privilégio dos Gracie. | — Hélio Gracie, na Revista dos Esportes, publicada no Rio de Janeiro em 1954 |
Um dos grandes seguidores do mestre Fadda é o mestre Deoclecio Paulo, o saudoso mestre DEO, que foi recentemente graduado ao ultimo nível atingível aos mortais, a faixa Vermelha 9º grau.
O Início
O Grande Mestre Oswaldo Baptista Fadda nasceu no Rio de Janeiro no bairro de Bento Ribeiro e praticamente respirou jiu-jitsu. Era muito conhecido também por ser um homem de família e bem humilde e de um conhecimento imenso da arte do jiu jitsu. Fez muitas amizades quando vivo e sendo o primeiro a iniciar suas aulas no bairro gerou o título de pioneiro da nossa arte no Rio e adjacências do subúrbio da Zona Oeste.
Iniciou sua jornada no ano de 1937, somente com 17 anos de idade, o nosso Fadda colocaria pela primeira vez um kimono. Como todos sabem Fadda foi aluno de Luiz França, que por sua vez foi um dos discípulos do pioneiro do jiu-jitsu no Brasil o "Conde Koma". Depois de um ano, Luiz França já dizia que Fadda seria um aluno de grande promessa na nossa arte do jiu-jitsu brasileiro no Brasil. Como poderia França estar tão certo disso? O que vemos hoje na história é a confirmação de França.
Fadda fazia várias demonstrações com seus alunos, não escolhia lugares e aonde pudesse colocar seus tatames ele estaria lá e até muitas vezes sem tatames mesmo, no próprio chão duro de cimento ou barros.
Ajudando Deficientes Físicos Para quem não sabe Fadda era envolvido em uma grande importante atividade, que era a recuperação, através dos ensinamentos do jiu-jitsu, de pessoas com problemas físicos e mentais. Naquela época ainda não tinhamos um controle da paralisia infantil e Fadda tinha vários alunos com essa doença participando de suas aulas como forma de coordenação motora e exercícios.
Em 1942 Luiz França resolve promover Fadda ao título de professor faixa-preta. França agora bem orgulhoso de seu aluno que seria um exemplo para muitos. Aguns anos depois Fadda teria fundado seu primeiro quartel general na cidade do Rio por volat de 1950.
Fadda Derrota Hélio Gracie
Um combate não tão famoso hoje em dia mais o ano de 1954, O Grande Mestre Fadda lutaria com um dos seus maiores concorrentes e amigo também. Com a presença vários de seus alunos Fadda derrotaria um Gracie.
Dentre muitos faixas-pretas que formou ainda hoje encontra-se na Zona Oeste do Rio de Janeiro Wilson Pereira Mattos, mais conhecido como Mestre Wilson ou Shiran que hoje e detentor da faixa vermelha nono grau, o nível mais alto que se pode atingir hoje no jiu-jitsu. Mestre Wilson possui representações em muitos lugares do Brasil e no mundo, tais como: Japão, Estados Unidos, Portugal e Austrália.
Para quem não conhece, segue um resumo da vida do professor Maeda (conhecido como Conde Koma):
Conde Koma - Mitsuyo Maeda
Aproximadamente nos anos de 1912 a 1922, veio do Japão o mestre Mitsuyo Maeda, conhecido como Conde Koma, que viajou o mundo todo dando demonstrações de Judô para os ocidentais. Quando chegou ao Brasil, deu várias exibições no Rio de Janeiro e em São Paulo, sem contudo despertar maior interesse no meio esportivo. Viajou para o norte do país e fixou residência no Pará, permanecendo como instrutor de Judô e Jiu-Jitsu. Ensinou a luta a uma família brasileira que melhor adquiriu os seus conhecimentos, sendo seu melhor aluno, Carlos Gracie, o fundador de Gracie Jiu-Jitsu, entre outros da mesma família que com o aprendizado divulgou muito o Judô e o Jiu-Jitsu para todo o país.
Mitsuyo Maeda nasceu em Aomori, situada ao norte da ilha Japonesa, em 1878. Quando tinha aproximadamente 18 anos ele se mudou para Tóquio onde começou a praticar judô. Seu registro de entrada no Kodokan data de 1897. Ele possuía um talento natural para o judô e rapidamente passava de uma graduação a outra e se estabeleceu como o jovem judoca mais promissor no Kodokan.
COLABORAÇÃO: LEONARDO LOPES
FONTE: MARCUS FLORA
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