As histórias de vida dos medalhistas olímpicos do judô brasileiro apresentam semelhanças e diferenças entre si, mas todos eles têm algo em comum: a presença de uma proteína específica em seus DNAs, capaz de desenvolver mais força em um indivíduo. Ciente deste fato, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) se aliou à ciência para buscar jovens talentos que, geneticamente, estejam predispostos a obter um futuro brilhante na modalidade. No entanto, salientam os especialistas, os laboratórios não substituirão os tatames para o desenvolvimento de um atleta.
Um estudo mostrou que os 12 judocas brasileiros que já subiram a um pódio olímpico possuíam a proteína alfa-actinina 3 em sua sequência genética. Esta substância, hereditária, trabalha na zona muscular do individuo: aumenta a conexão entre as fibras e ajuda o atleta a desenvolver mais força física. Característica vital para o judô.
Mas... será que é possível conhecer um campeão olímpico apenas pela sua condição hereditária? "Sim. É muito difundido na literatura mundial que é possível buscar marcadores que estão no genoma do indivíduo", responde João Bosco Pesquero, pesquisador e biologista molecular, responsável pelo curioso estudo da CBJ, em parceria com Douglas Vieira, judoca vice-campeão olímpico em Los Angeles-1984 e atual técnico da Seleção Sub-20. Douglas, por sinal, possui a alfa-actinica 3 em seu organismo.
Sabendo da importância da proteína no organismo de um atleta de judô, a CBJ tratou de estudar o DNA dos 64 atletas das categorias de base da Seleção Brasileira. Enquanto descansavam durante o treinamento desta terça-feira, em São Paulo, os jovens lutadores raspavam o lado interno da bochecha com uma pazinha plástica para que seu conteúdo genético fosse analisado posteriormente pelos especialistas.
O procedimento surpreendeu alguns judocas. "Foi estranho, parecia que a gente estava escovando os dentes", conta, sorrindo, a promissora Rafaela Silva, 18 anos, campeã mundial sub-20 em 2008 e integrante do time adulto na categoria leve (até 57 kg).
A presença da alfa-actinina 3 no organismo é hereditária. Ou seja: os filhos dos judocas brasileiros medalhistas olímpicos terão essa substância em seus genes. O que não significa, necessariamente, que esta é a receita para o sucesso. "Não podemos esquecer que a criação e o desenvolvimento de cada pessoa são muito importantes, fatores essenciais. Por exemplo: dois irmãos gêmeos, que contêm o mesmo material genético, podem desenvolver aptidões distintas se criados de maneira diferente", salienta Douglas Vieira.
A retórica também é verdadeira: um jovem judoca que não tenha a proteína em seu genoma não precisa abandonar a carreira e nem está fadado ao fracasso. "De jeito nenhum, não podemos excluí-los. A alfa-actinina 3 apenas nos dá um pouco mais de certeza de que os resultados podem acontecer. Queremos traçar um mapeamento completo do DNA de todos" explica Douglas. "A ideia é poder orientar os atletas para terem um rendimento melhor, ajudar a evitar lesões, e não impedi-lo de trabalhar", complementa Pesquero.
Caso alguém queira descobrir se possui um "DNA de campeão" para o judô, poderá realizar o mesmo exame pelos quais foram submetidos os integrantes das categorias de base da CBJ. Para isso, basta buscar mais informações junto ao laboratório Helixxa, que patrocina o estudo com os judocas. O preço de cada teste é de aproximadamente R$ 300, segundo Pesquero.
----------------------------------------------------------------------------------
Brazilian Judo uses the science in search of the "DNA of a champion"
The life stories of the Brazilian Olympic medalists in judo have similarities and differences, but they all have something in common: the presence of a specific protein in their DNA, capable of developing into a stronger individual. Aware of this, the Brazilian Judo Confederation (CBJ) has teamed with science to search for young talent that, genetically, are predisposed to get a bright future in the sport. However, experts point out, the labs will not replace the mats for the development of an athlete.
One study showed that the 12 Brazilian judo athletes who have climbed the Olympic podium had a protein alpha-actinin 3 in its gene sequence. This substance, hereditary muscular work in the area of the individual: it increases the connection between the fibers and helps the athlete to develop more physical strength. Vital feature for judo.
But ... is it possible to meet an Olympic champion just by their hereditary condition? "It's very widespread in the literature that you can get labels that are in the genome of the individual," responds John Bosco Pesquero, researcher and molecular biologist, responsible for curious study of the CBJ, in partnership with Douglas Vieira, vice-Olympic champion judoka Los Angeles-1984 and current coach of the U-20. Douglas, incidentally, has the alpha-actin 3 in your body.
Knowing the importance of protein in the body of an athlete in judo, the CBJ tried to study the DNA of the 64 athletes in the base of the Brazil squad. While resting during training on Tuesday in Sao Paulo, the young wrestlers scratched the inside of the cheek with a plastic shovel so that its contents were further analyzed by genetic experts.
The procedure has surprised some judo. "It was strange, it seemed that we were brushing our teeth," he says, smiling, promising Rafaela Silva, 18, under-20 world champion in 2008 and part of the adult team in the lightweight (57kg).
The presence of alpha-actinin 3 in the body is hereditary. That is: the children of Brazilian judoka Olympic medalists have this substance in their genes. This does not necessarily mean that this is the recipe for success. "We can not forget that the creation and development of each person are very important, essential factors. For example, two twins, which contain the same genetic material, may develop different skills are created differently," notes Douglas Vieira.
The rhetoric is also true: a young judoka that does not have the protein in its genome does not need to abandon the race and neither is doomed to failure. "No way, we can not exclude them. Alpha-actinin 3 only gives us a bit more certainty that the results can happen. We want to draw a complete mapping of all DNA," explains Douglas. "The idea is to guide the athletes to have the best performance, help prevent injuries, not prevent it from working," adds Pesquero.
If someone wants to find out if it has a "DNA of a champion" for judo, you can perform the same examination were submitted by the members of the basic categories of BJC. Simply get more information from the laboratory Helixxa, which sponsors the study with judo. The price of each test is approximately $ 300, according to Pesquero.
Aos leitores:
ResponderExcluirGostaria de corrigir uma frase da matéria que acredito ter sido um mal entendido: a frase diz que é possível conhecer um campeão olímpico apenas pela sua condição hereditária. A resposta a pergunta formulada é não! Como foi comentado em outras partes da matéria, conhecer a genética é importante para a orientação do atleta, mas de forma alguma garante que ele vai se tornar um campeão olímpico. Para se formar um campeão é necessário muita força de vontade e muito treinamento. A idéia deste projeto é exatamente conhecermos a genética de nossos atletas para podermos ajudar na orientação dos nossos jovens no início de sua vida esportiva. Hoje estamos analisando apenas quatro genes mas em breve iremos analisar todo o genoma dos atletas em busca de marcadores que possam nos auxiliar no processo de orientação. De forma alguma esta informação será usada para impedir que alguém pratique qualquer tipo de esporte, mas sim ajudá-lo a encontrar a modalidade onde ele possa ter mais sucesso e assim permanecer mais tempo na vida esportiva, mesmo que não venha a ser um campeão. Acreditamos muito que nossos atletas tem muito talento, coragem e garra. Só estamos querendo oferecer, como no resto do mundo, mais uma informação para que eles possam tirar o máximo proveito de suas condições físicas.
Joao Bosco Pesquero