São Paulo continua dominando o cenário nacional do judô. Mas, aos poucos, outros estados começam a formar atletas para representar o país nas maiores competições mundiais
Patrícia Banuth - Correio Braziliense
Milena Mendes, judoca brasiliense, que treina em São paulo |
Atletas, treinadores e dirigentes argumentam que a hegemonia paulista se deve ao fato de o estado ter o maior número de praticantes de judô do Brasil e de deter os maiores e melhores centros de treinamentos, além de sediar grande parte das competições em território nacional. Ney Wilson Silva, coordenador técnico internacional da CBJ, lembra ainda que a capital paulista tem a maior colônia japonesa do mundo, o que contribui para a tradição do esporte na cidade.
“Todos esses fatores colaboraram para a supremacia de São Paulo. Comparado com outros estados, São Paulo trabalha no fortalecimento do judô há muito mais tempo”, afirma o responsável pela Seleção Brasileira principal.
Na opinião de Luiz Antônio Romariz, coordenador das equipes de base da CBJ, é natural que São Paulo domine o cenário nacional. “Sendo a quantidade de academias e atletas muito maior lá do que em outros estados, é de se esperar que São Paulo tenha uma certa supremacia”, diz.
Mas o domínio de São Paulo no judô já foi maior. Se observarmos o histórico das Olimpíadas, é possível notar que se em Sydney-2000 nove dos 11 atletas eram de São Paulo, em Pequim–2008 esse número caiu para seis, de um total de 13 representantes. Apesar de ainda saírem de São Paulo os melhores atletas do Brasil, a descentralização vem ocorrendo ano após ano.
“Há 10 anos, uma nova diretoria assumiu a Confedereção e vem realizando seletivas, treinamentos, e dando apoio de infraestrutura a outros estados”, explica Ney Wilson. “É claro que não se consegue mudar um cenário de uma hora para a outra. Mas as transformações já são perceptíveis. As categorias de base já têm atletas de 15, 16 federações diferentes que um dia vão chegar à Seleção principal e vão mudar o quadro gradativamente”, aposta o coordenador técnico da CBJ.
Rumo às Olimpíadas
Confira os atletas classificados para a segunda fase
da seletiva Projeto Londres 2012
Feminino
48kg: Cristiane Pereira (RJ) e Nathália Brígida (MG)
52kg: Eleudis Valentin (SP) e Milena Mendes (SP)
57kg: Giullia Penalber (RJ) e Mariana Barros (SP)
63kg: Katherine Campos (RJ) e Manoela Braga (RS)
70kg: Gláucia Lima (SP) e Nádia Merli (SP)
78kg: Rosangela Moraes (SC) e Samantha Soares (SP)
78kg: Aline Puglia (SP) e Claudirene Cesar (SP)
Masculino
60kg: Daniel Moraes (MG) e Diego Santos (RS)
66kg: Charles Chibana (SP) e Luis Revite (SP)
73kg: Leonardo Luz (SP) e Moacir Mendes (RS)
81kg: Felipe Costa (SP) e Rodrigo Rocha (RJ)
90kg: Bruno Cunha (RJ) e Felipe Oliveira (SP)
100kg: Alex Aguiar (SP) e Renan Nunes (RS)
100kg: Leandro Gonçalves (SP) e Luiz Carmo (SP)
>>Total: 28 SP: 16 MG: 2 RJ: 5 RS: 4 SC: 1
Qualidade em todos os estados
da seletiva Projeto Londres 2012
Feminino
48kg: Cristiane Pereira (RJ) e Nathália Brígida (MG)
52kg: Eleudis Valentin (SP) e Milena Mendes (SP)
57kg: Giullia Penalber (RJ) e Mariana Barros (SP)
63kg: Katherine Campos (RJ) e Manoela Braga (RS)
70kg: Gláucia Lima (SP) e Nádia Merli (SP)
78kg: Rosangela Moraes (SC) e Samantha Soares (SP)
78kg: Aline Puglia (SP) e Claudirene Cesar (SP)
Masculino
60kg: Daniel Moraes (MG) e Diego Santos (RS)
66kg: Charles Chibana (SP) e Luis Revite (SP)
73kg: Leonardo Luz (SP) e Moacir Mendes (RS)
81kg: Felipe Costa (SP) e Rodrigo Rocha (RJ)
90kg: Bruno Cunha (RJ) e Felipe Oliveira (SP)
100kg: Alex Aguiar (SP) e Renan Nunes (RS)
100kg: Leandro Gonçalves (SP) e Luiz Carmo (SP)
>>Total: 28 SP: 16 MG: 2 RJ: 5 RS: 4 SC: 1
Qualidade em todos os estados
No país do futebol, o que não falta são judocas talentosos em estados fora de São Paulo. O Distrito Federal é prova disso. Da capital já despontaram atletas como Luciano Corrêa, ex-campeão mundial, Ketleyn Quadros, bronze nas Olimpíadas de Pequim-2008, e Érika Miranda, bronze no Pan do Rio-2007. Todos eles, entretanto, têm uma história idêntica: acabaram saindo do DF para treinar fora e hoje representam outros estados em competições.
O problema, segundo Luiz Antônio Romariz, sãos as barreiras financeiras que os atletas encontram em seus estados naturais. “Em 2010, a equipe brasileira masculina sub-20 tinha três atletas de Brasília. As cidades conseguem formar atletas até certo nível, mas depois, quando eles precisam de maior volume de treinos e investimentos de clubes, eles não encontram e acabam se mudando para outros centros para conseguirem entrar na seleção principal”, explica. “No DF, por exemplo, temos excelentes treinadores. Mas os investimentos são poucos e inconstantes, o que causa muito problema para o planejamento dos atletas”, defende.
Luciano Gonçalves é técnico em Brasília. E diz que o apoio e a estrutura disponível na cidade nem se comparam ao da capital paulista. “São Paulo importa atletas de todos os estado do país. Quando o Luciano Corrêa saiu de Brasília, ele já era campeão brasileiro e sul-americano e era mais ou menos o que é hoje”, argumenta. “Esses atletas saem de seus estados já muito fortes, mas acabam indo para São Paulo em busca de apoio e condições de treinamento. Se hoje repatriássemos nossos atletas e déssemos a eles estrutura, lutaríamos de igual para igual com os paulistas”, acredita.
O problema, segundo Luiz Antônio Romariz, sãos as barreiras financeiras que os atletas encontram em seus estados naturais. “Em 2010, a equipe brasileira masculina sub-20 tinha três atletas de Brasília. As cidades conseguem formar atletas até certo nível, mas depois, quando eles precisam de maior volume de treinos e investimentos de clubes, eles não encontram e acabam se mudando para outros centros para conseguirem entrar na seleção principal”, explica. “No DF, por exemplo, temos excelentes treinadores. Mas os investimentos são poucos e inconstantes, o que causa muito problema para o planejamento dos atletas”, defende.
Luciano Gonçalves é técnico em Brasília. E diz que o apoio e a estrutura disponível na cidade nem se comparam ao da capital paulista. “São Paulo importa atletas de todos os estado do país. Quando o Luciano Corrêa saiu de Brasília, ele já era campeão brasileiro e sul-americano e era mais ou menos o que é hoje”, argumenta. “Esses atletas saem de seus estados já muito fortes, mas acabam indo para São Paulo em busca de apoio e condições de treinamento. Se hoje repatriássemos nossos atletas e déssemos a eles estrutura, lutaríamos de igual para igual com os paulistas”, acredita.
Sair ou não de casa?
Na Seletiva Nacional, dos quatro judocas naturais de Brasília, apenas Milena Mendes, que atualmente vive e treina na capital paulista, conseguiu uma vaga na Seleção. Lucas de Oliveira, Vinícius Sakamoto e Takashi Haguihara (que treinam na capital) foram superados.
Milena diz que sentiu bastante diferença depois que se mudou para São Paulo. “Me adaptei muito rápido a São Paulo. Aqui tem mais competições, mais volume de treinos e mais massa para treinar. Acho que isso faz a diferença. Em Brasília tem um número muito restrito de pessoas. Então, a gente chega a um ponto em que não consegue mais evoluir”, declara. A judoca, contudo, não acredita que seja necessário sair da capital federal para um dia realizar o sonho de entrar para a seleção principal. “Brasília tem técnicos excelentes. O que eu acho que precisa é que o atleta passe um tempo fora, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, fazendo treinamentos”, opina.
Sarah Menezes, única representante do Nordeste do Brasil nas Olimpíadas de Pequim, também não acha necessário abandonar o lugar em que nasceu para treinar. Tanto que nasceu e continua vivendo no Piauí. “Tem que treinar e se aperfeiçoar. É preciso ser profissional e ter responsabilidade, não sair do seu estado”, garante a jovem judoca, de 20 anos. “São Paulo vai ter sempre muita gente treinando comparada a outros estados porque é lá que os grandes clubes estão concentrados. Mas vemos que o judô está evoluindo. Apesar de muitos dos melhores serem de São Paulo, estão aparecendo atletas de qualidade em outros estados”, afirma.
>>Entrevista - Leonardo Luz
Na Seletiva Nacional, dos quatro judocas naturais de Brasília, apenas Milena Mendes, que atualmente vive e treina na capital paulista, conseguiu uma vaga na Seleção. Lucas de Oliveira, Vinícius Sakamoto e Takashi Haguihara (que treinam na capital) foram superados.
Milena diz que sentiu bastante diferença depois que se mudou para São Paulo. “Me adaptei muito rápido a São Paulo. Aqui tem mais competições, mais volume de treinos e mais massa para treinar. Acho que isso faz a diferença. Em Brasília tem um número muito restrito de pessoas. Então, a gente chega a um ponto em que não consegue mais evoluir”, declara. A judoca, contudo, não acredita que seja necessário sair da capital federal para um dia realizar o sonho de entrar para a seleção principal. “Brasília tem técnicos excelentes. O que eu acho que precisa é que o atleta passe um tempo fora, no Rio de Janeiro ou em São Paulo, fazendo treinamentos”, opina.
Sarah Menezes, única representante do Nordeste do Brasil nas Olimpíadas de Pequim, também não acha necessário abandonar o lugar em que nasceu para treinar. Tanto que nasceu e continua vivendo no Piauí. “Tem que treinar e se aperfeiçoar. É preciso ser profissional e ter responsabilidade, não sair do seu estado”, garante a jovem judoca, de 20 anos. “São Paulo vai ter sempre muita gente treinando comparada a outros estados porque é lá que os grandes clubes estão concentrados. Mas vemos que o judô está evoluindo. Apesar de muitos dos melhores serem de São Paulo, estão aparecendo atletas de qualidade em outros estados”, afirma.
>>Entrevista - Leonardo Luz
Leonardo Luz: choro antes de competir em São Paulo |
Há seis dias de competirem por uma vaga na Seleção Brasileira, os irmãos Leonardo e Carlos Luz receberam uma notícia que quase os fizeram desistir do sonho olímpico: a mãe, Glória, havia morrido. A maior incentivadora dos rapazes estava viajando de moto com um grupo de amigos a caminho da Argentina, quando sofreu um acidente em Ituiutaba, interior de Minas Gerais. Carlos, 26 anos, decidiu participar da competição no último minuto e acabou derrotado. Já Leonardo, 27 anos, encontrou forças para vencer as duas lutas e conquistar uma das vagas na categoria leve (até 73kg). De Natal, onde descansa com a família, Leonardo Luz conversou com o Correio:
Como você e seu irmão reagiram à morte da sua mãe?O Carlos estava morando e trabalhando em Portugal, longe da família. Então, para ele foi muito difícil. Ele ia desistir e decidiu participar da Seletiva de última hora. Foi para São Paulo no sábado para lutar no domingo. Não conseguiu treinar direito e isso acabou refletindo, tanto que não consegui a classificação. Eu já estava treinando muito para a Seletiva. E quando aconteceu essa tragédia fui para São Paulo o mais rápido possível para esfriar a cabeça. Não tem como não se abalar. Cheguei a chorar antes de começar a competição. Mas era uma coisa que ela queria muito. Então, lutei por ela.
Seu técnico em Brasília, o Luciano Gonçalves, disse que ela era a maior incentivadora de vocês…Meu pai e minha mãe. Se não fosse por eles não estaríamos no esporte.
Como foi sua preparação para a Seletiva?Desde o começo do ano passado, a gente focou nas competições que davam vaga para a Seletiva, que eram o Campeonato Brasileiro e o Troféu Brasil. O Carlos ganhou o Troféu Brasil. E depois que eu ganhei o Brasileiro, tirei uma semana de férias e depois não parei de treinar até a semana que minha mãe faleceu. Nessa última semana, só não treinei na segunda, que foi o dia em que ela morreu; na terça, que foi o sepultamento; e na quarta, quando viajei para São Paulo.
Qual foi a maior dificuldade na Seletiva?Foi o falecimento da minha mãe. Eu sabia que estava bem preparado, tinha me classificado bem nas outras competições e sabia que o que iria fazer diferença era a cabeça. Só havia dois adversários com quem eu não tinha lutado e o meu irmão, para quem eu tinha perdido. Então, eu estava muito confiante. Mas minha cabeça não estava funcionando. Se eu entrasse, poderia perder. Se não lutasse, iria perder. Então, achei melhor arriscar.
Você chegou a treinar no Japão. O que isso lhe acrescentou?A gente sempre busca treinar nos melhores locais e eu e meu irmão fomos para lá, moramos lá e vimos que é tudo que nem aqui: eles têm dois braços, duas pernas e isso melhorou muito a nossa confiança. A gente viu que podia lutar de igual para igual. A gente precisou ir para lá para descobrir que podia ganhar deles.
Você treinou também em vários estados. Qual a diferença do judô brasiliense para o dos outros locais?O que eu senti de diferença é que aqui em Brasília o judô é bem técnico. Sempre saem atletas de nível muito bom. O que falta é incentivo. A gente tem que pagar academia, pagar isso, pagar aquilo, mas os professores são excelentes. Os atletas da categoria júnior, que é quando o pai consegue manter, ficam aqui. Mas depois acabam saindo, como foi o caso da Erika Miranda, da Ketleyn Quadros, do Luciano Corrêa…
Você e seu irmão lutam na mesma categoria. Existe uma rivalidade?Não. A gente se ajuda muito e treina junto há muito tempo. No troféu Brasil, fizemos a final e competimos sem problemas. A gente dá dicas sobre os adversários e um sempre fica feliz pelo outro.
Agora você vai disputar a Seletiva interna para definir a Seleção Brasileira A, B, C e D. Quais são as expectativas?Dois dos classificados eu já venci. O outro é o João Derly, campeão olímpico, que está vindo de lesão e é o atleta com o qual eu não sei como vai ser a luta. Todos são atletas de alto nível e que podem ganhar de mim. Mas estou confiante.
Como você e seu irmão reagiram à morte da sua mãe?O Carlos estava morando e trabalhando em Portugal, longe da família. Então, para ele foi muito difícil. Ele ia desistir e decidiu participar da Seletiva de última hora. Foi para São Paulo no sábado para lutar no domingo. Não conseguiu treinar direito e isso acabou refletindo, tanto que não consegui a classificação. Eu já estava treinando muito para a Seletiva. E quando aconteceu essa tragédia fui para São Paulo o mais rápido possível para esfriar a cabeça. Não tem como não se abalar. Cheguei a chorar antes de começar a competição. Mas era uma coisa que ela queria muito. Então, lutei por ela.
Seu técnico em Brasília, o Luciano Gonçalves, disse que ela era a maior incentivadora de vocês…Meu pai e minha mãe. Se não fosse por eles não estaríamos no esporte.
Como foi sua preparação para a Seletiva?Desde o começo do ano passado, a gente focou nas competições que davam vaga para a Seletiva, que eram o Campeonato Brasileiro e o Troféu Brasil. O Carlos ganhou o Troféu Brasil. E depois que eu ganhei o Brasileiro, tirei uma semana de férias e depois não parei de treinar até a semana que minha mãe faleceu. Nessa última semana, só não treinei na segunda, que foi o dia em que ela morreu; na terça, que foi o sepultamento; e na quarta, quando viajei para São Paulo.
Qual foi a maior dificuldade na Seletiva?Foi o falecimento da minha mãe. Eu sabia que estava bem preparado, tinha me classificado bem nas outras competições e sabia que o que iria fazer diferença era a cabeça. Só havia dois adversários com quem eu não tinha lutado e o meu irmão, para quem eu tinha perdido. Então, eu estava muito confiante. Mas minha cabeça não estava funcionando. Se eu entrasse, poderia perder. Se não lutasse, iria perder. Então, achei melhor arriscar.
Você chegou a treinar no Japão. O que isso lhe acrescentou?A gente sempre busca treinar nos melhores locais e eu e meu irmão fomos para lá, moramos lá e vimos que é tudo que nem aqui: eles têm dois braços, duas pernas e isso melhorou muito a nossa confiança. A gente viu que podia lutar de igual para igual. A gente precisou ir para lá para descobrir que podia ganhar deles.
Você treinou também em vários estados. Qual a diferença do judô brasiliense para o dos outros locais?O que eu senti de diferença é que aqui em Brasília o judô é bem técnico. Sempre saem atletas de nível muito bom. O que falta é incentivo. A gente tem que pagar academia, pagar isso, pagar aquilo, mas os professores são excelentes. Os atletas da categoria júnior, que é quando o pai consegue manter, ficam aqui. Mas depois acabam saindo, como foi o caso da Erika Miranda, da Ketleyn Quadros, do Luciano Corrêa…
Você e seu irmão lutam na mesma categoria. Existe uma rivalidade?Não. A gente se ajuda muito e treina junto há muito tempo. No troféu Brasil, fizemos a final e competimos sem problemas. A gente dá dicas sobre os adversários e um sempre fica feliz pelo outro.
Agora você vai disputar a Seletiva interna para definir a Seleção Brasileira A, B, C e D. Quais são as expectativas?Dois dos classificados eu já venci. O outro é o João Derly, campeão olímpico, que está vindo de lesão e é o atleta com o qual eu não sei como vai ser a luta. Todos são atletas de alto nível e que podem ganhar de mim. Mas estou confiante.
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