quarta-feira, 20 de junho de 2012

As raízes das artes marciais continuam fortes


Por Wallace Graciano - Do Portal Hoje em Dia

Em meio ao “boom” do MMA, milhares de lutadores mantêm o anonimato e o amor à filosofia de sua arte marcial favorita. Mesmo os que chegaram à elite de sua modalidade, ainda lutam para enfrentar obstáculos financeiros e conseguir patrocínios significativos para se manter como um atleta de ponta. A realidade discrepante poderia trazer tormentos aos professores, que suam diariamente para propagar seus ideais. Ainda assim, se mostram tranquilos e apostam na força das doutrinas orientais para formarem atletas dentro e fora dos dojôs.

É o caso de Galileu Paolo, professor de judô na Tatami Judô Clube, tradicional centro de ensino de artes marciais de Minas Gerais. Com uma tranquilidade peculiar aos grandes mestres da arte nipônica, o “sensei” se mostra respeitoso ao ser perguntado sobre como enxerga a popularização das artes marciais mistas, porém não aposta que haverá êxodo de alunos para essa modalidade. “É tradicional dos brasileiros torcerem pelas pessoas que se destacam no esporte. Como o país tem se destacado no UFC e a mídia tem levado isso a frente, a tendência é que a popularização aumente. O MMA, como o próprio termo diz, é uma mistura de muitas artes. É mais do que normal que um atleta procure técnicas de várias artes diferentes para buscar os melhores caminhos para vencer”, avalia.

Professor de judô há 20 anos e faixa preta de jiu-jítsu, Galileu é um dos grandes estudiosos das artes marciais no estado. Recentemente, esteve no Japão, onde teve a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos sobre as modalidades. Por reconhecer a força da filosofia lutas nipônicas, o “sensei” aposta que o MMA e as mais variadas artes marciais podem caminhar paralelamente, sem que uma encubra a outra. “São públicos bem diferentes. O MMA não é uma arte marcial, pois não tem uma filosofia que irá preparar o praticante tanto para os desafios no dojô quanto nos desafios para sua vida. A pessoa que anseia em fazer apenas o MMA jamais se adaptaria em uma arte marcial doutrinária. Agora muitos atletas podem começar no judô ou no jiu-jítsu e então migrarem para o MMA”, pondera.

A opinião de Galileu é compartilhada por seu colega de clube e professor de caratê Robert Freitas. O faixa preta 6º dan acredita que a cabeça do atleta é seu guia e que a mistura de artes marciais acaba com a filosofia propagada por cada uma delas especificamente. “São duas competições diferentes. Uma é um modo de vida, que pretende valorizar o equilíbrio, a conduta, a moral e a técnica. A outra é porrada. Não é uma luta que você pratica em um determinado espaço de tempo, para que alguém mais fraco supere um adversário mais forte. Por isso pergunto aos meus alunos o que eles querem. Se querem ganhar dinheiro ou serem atletas. No caratê ele tem competições e consegue desenvolver como um atleta e homem. Já se busca o profissionalismo, ele vai para o MMA, onde pode aprender várias modalidades, mas não vai absorver a filosofia de nenhum”, afirma.

Ao ser perguntado se daria aula para um aluno que busca os ensinamentos do caratê visando utilizá-los no MMA, Robert mostra que não veria problemas, apesar de preferir seguir disseminando sua filosofia. “Não é que eu seja favorável. Não vejo problema, mas prefiro manter as raízes”, conclui o professor, que acredita também que a doutrina oriental pode sobrepujar a empolgação inicial do MMA.