quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Talento para a Rio'2016

Fonte: Estado de Minas / Super Esportes

Por sucesso em 2016, o judoca Tiago Silva Palmini Souza, de 16 anos, projeta o ciclo olímpico. Com um currículo considerável para a idade, o mineiro de Itaguara, Região Metropolitana de Belo Horizonte, é umas das promessas do Brasil para a Olimpíada do Rio. Ele foi campeão mundial júnior na categoria Pesado e Absoluto, além de vice-campeão mundial por equipes, em Brasília, no mês passado.

Na capital federal, ele venceu as cinco lutas da categoria Júnior por ippon. Na decisão, derrotou o chileno Luís Velázquez e ficou com a medalha de ouro. Na Absoluto, que reúne atletas juvenis e juniores, fez três lutas, vencendo duas por yuko e uma por ippon.

Tiago começou a lutar aos oito anos por influência de um primo, que se lesionou e abandonou os tatames. “Sempre que ele ia treinar, eu estava junto. Comecei a gostar do judô e a treinar também”, conta.

Já apaixonado pelo esporte, ele não desistiu e seguiu em frente. A dedicação do garoto rendeu-lhe títulos em todas as categorias, desde então. Foi oito vezes campeão mineiro, bicampeão brasileiro regional (juvenil e júnior) e é o atual campeão brasileiro juvenil. Foi também medalha de prata no Pan-Americano do Chile em 2011.

DEDICAÇÃO O sucesso no esporte deve-se à árdua rotina de treinos no Barroca Judocon e na Polícia Militar, dividida com os estudos – Thiago cursa o primeiro ano do ensino médio. “São duas horas diárias durante cinco dias na semana à noite. Três dias no Barroca e o restante na polícia, onde meu professor dá aula. Eu treino com os oficiais lá”, diz Tiago, destacando a importância de seus parceiros (Academia Montanha Fitness e Posto Labareda) nas conquistas. “Não fosse por eles, não teria chegado tão longe.”

A parceria faz com que Tiago sonhe mais alto. Ele espera estar entre os brasileiros que defenderão o Brasil nos Jogos do Rio, em 2016. “É o sonho de qualquer atleta. Sei que é difícil, mas trabalho muito para chegar lá”, afirma o judoca de 1,95m de altura e 102kg.

Após superar problemas respiratórios, Samila Rebeca vira promessa no judô

Da periferia de Macapá para os tatames, atleta das Olimpíadas Escolares coleciona títulos, como tetracampeonato amapaense e bronze no Brasileiro

Por Ana Carolina Fontes - globo.com


Samila Coelho judô Amapá Olimpíadas Escolares (Foto: Ana Carolina Fontes)
A vida de Samila Receba poderia ter tomado um rumo totalmente diferente se o judô não tivesse cruzado o seu caminho. Desde pequena, ela sofria de um problema no coração que dificultava a sua respiração. Um dia, resolveu conhecer um projeto social perto de casa, onde teve o primeiro contato com as artes marciais, aos 10. Quatro anos depois e praticamente curada, a menina da periferia de Macapá passou a colecionar importantes títulos nos tatames.
Tetracampeã amapaense e medalhista de bronze no Campeonato Brasileiro sub-15, a judoca aparece como uma das promessas do estado na modalidade. Na etapa nacional das Olimpíadas Escolares, em Poços de Caldas (MG), para atletas de 12 a 14 anos, terminou na sexta colocação pela categoria leve (-48kg).
No início da carreira, Samilia precisou vencer a resistência da mãe, preocupada com o seu quadro de saúde, que poderia se agravar. Mas a prática da atividade física fez exatamente o contrário e Dona Merian tornou-se uma das principais incentivadores da menina, ao lado do mestre Antônio Viana.
- Eu comecei a me interessar pelo judô no projeto, mas a minha mãe não queria que eu fizesse por causa do meu problema no coração. Tinha muita dificuldade de respiração, sentia falta de ar e, às vezes, ficava dois minutos sem respirar. Depois que eu entrei no judô, melhorei bastante, só pioro em clima frio e seco. Gosto até de ir à pé para a academia, parece longe, mas é perto, são 30 minutos de caminhada. O esporte fez muito bem para minha saúde.
Samila Coelho judô Amapá Olimpíadas Escolares (Foto: Ana Carolina Fontes) 
Sexta colocada na categoria leve (-48kg) das OEs, Samila posa em Minas Gerais (Foto: Ana Carolina Fontes)
 
Atualmente, a judoca de 14 anos treina na Academia Integrada de Formação e Aperfeiçoamento (AIFA), que atende crianças e adolescentes de áreas de risco, nos bairros de Marabaixo, Cabralzinho, Goiabal e Lagoa dos Índios. Logo no primeiro ano de academia, Samila fez sua primeira viagem. O destino foi o Pará, onde disputou a Copa Paragominas de 2008.
- Eu nunca tinha saído do Amapá, foi a primeira vez que eu viajei, e logo para uma competição. Fui preparada, mas acho que senti a falta de experiência e acabei ficando em segundo lugar. Em 2010, eu tive a chance de fazer outra viagem, mas não consegui dinheiro para viajar e o meu irmão, Leomario, acabou indo. No ano passado, nós dois nos classificamos para o Regional Norte Nordeste, mas foi a minha vez. A gente fica se revezando. A nossa mãe está sempre nos ajudando como pode, desde as inscrições aos equipamentos e até nas viagens - finalizou.

Assim vai ser difícil brilhar em casa

Ivan Drummond - Estado de Minas

Os Jogos Olímpicos de Londres terminaram há 20 dias. A Paralimpíada se encerrou domingo. E a próxima edição desses eventos será no Brasil, no Rio, em 2016. No entanto, não existe no país uma política específica para o desenvolvimento do esporte. Além do mais, quais atletas estão sendo preparados para competir na Olimpíada brasileira? Sabe-se que haverá uma cobrança por medalhas. O Brasil, que conquistou 17 em Londres, terá no mínimo que dobrar esse número para não ser considerada uma participação vexamosa. E todos sabem que para ser almejar o futuro é preciso, acima de tudo, investir na base. Isso ocorre hoje? A reposta é um sonoro não. No judô mineiro, por exemplo, para competir, pais, mães, jovens atletas, promessas do esporte fazem sacrifícios inimagináveis devido à falta de apoio e ao descaso, principalmente das autoridades, que não ajudam em nada. De tempos em tempos há o surgimento de um fenômeno. Mas quando isso ocorre, é fruto do sacrifício e do esforço pessoal desses atletas.

Dia de emoções múltiplas

Madrugada de sábado, 1º de setembro, 2h. Rua Itaité, no Bairro São Geraldo, porta da Academia de Judô São Geraldo. Dois ônibus estão à espera de um grupo de crianças, adolescentes e alguns pais, que vão até Ipatinga, sede do Dangai de Judô 2012 e do Mineiro de Judô Sênior. Na equipe, 52 competidores, sendo que 33 são parte de um projeto social com a Escola Municipal Padre Francisco Carvalho Moreira, também do bairro. Não há luxo, nem fartura. A viagem só se tornou possível graças ao esforço da escola para alugar os dois ônibus. O objetivo: viajar, lutar e voltar.

O ônibus parte. Meia hora depois, todos estão dormindo. Mais tarde, uma parada, em João Monlevade, para um lanche e esticar as pernas. Nada de sucos, isotônicos ou salgados. Os meninos recebem um pão com mortadela, preparado pelo professor Geraldo Brandão de Oliveira, o técnico do Judô São Geraldo, com barras de cereais, que a meninada adora, e guaraná.

Logo, os ônibus seguem seu caminho. É preciso estar em Ipatinga às 6h30, que é quando começa a pesagem dos atletas. Isso será feito em apenas uma hora. Às 8h começa a competição. E na chegada à Usipa, onde acontecerá o torneio, primeiro a balança. Depois, um modesto café da manhã: um copo de plástico com café com leite e um pão com manteiga.

É hora de ir pra luta, literalmente. O professor Brandão, um abnegado – foi um dos que ajudaram a sanear o judô mineiro, há bem pouco tempo, quando foram constatadas irregularidades na gestão de Antônio Costa na Federação Mineira (foi impugnado e proibido de voltar às atividades esportivas) –, se mostra ansioso. É uma experiência nova, pois a maioria dos meninos não tem mais de seis meses de experiência.

“Eles é pediram para vir ao Dangai. Na reunião, quando disse que talvez não fosse possível, teve menino que chorou. Por fim, encontramos a solução e todos puderam participar”, conta.

E para cada um dos que vão para a competição, um momento especial, diferente de tudo o que já haviam experimentado. Matheus Júnior de Oliveira, de 13 anos, se preparou para o torneio. Deixou para cortar o cabelo horas antes do embarque e fez um corte moicano. “Um amigo, meu vizinho, foi quem fez pra mim.” Mas ele surpreende ao contar de sua ansiedade. “Não durmo há duas noites, pois só fico pensando como será estar no tatame lutando. Deve ser diferente do treino.”

A seu lado está Guilherme Santos, de 14 anos, que é da academia e está na quarta competição. “Estou lutando há seis anos e o melhor momento é quando a gente vai para a disputa. É algo que fascina.”

Ansiedade Não são só os meninos. As meninas mostram a mesma vontade. Aline Martins está na arquibancada. Assiste de longe às primeiras lutas e não para de perguntar ao professor Brandão, a quem chama carinhosamente de “sensei” (uma designação de respeito no Japão, onde nasceu o esporte, que significa “pessoa mais velha”). “A que horas será a minha luta, sensei?”

As lutas se sucedem. A previsão, ou melhor, o sonho do professor Brandão, era ganhar uma medalha. Para ele, “já estaria de bom tamanho, uma recompensa pelo que estamos fazendo nesse pouco tempo.”

Muitos dos meninos foram para o projeto por ouvir dizer, como Ana Beatriz Santos Rodrigues, de 13 anos. “Comentaram na escola e resolvi experimentar. Falei em casa, com meus pais e com a direção da escola e eles me encaminharam. Estou muito feliz por estar aqui. Luto há apenas seis meses, mas acho que estou pronta. Quero ser campeã.”

Melhor do que a encomenda

O dia vai passando, as lutas acontecendo, e com o cair da tarde, surgem os primeiros campeões. No Mineiro Sênior, a medalhista olímpica de bronze nos Jogos de Pequim’2008 Ketleyn Quadros rouba a cena. Vence a categoria leve, dando um show. É assediada por muitos meninos e meninas. Todos querem falar com ela. Vêm as finais do Dangai. Ana Beatriz Santos Rodrigues, de 14 anos, a menina que havia ouvido falar do convênio da sua escola, a Padre Francisco, com o Judô São Geraldo e pediu aos pais e à escola para entrar no projeto, tem o melhor dia de sua vida. Ela foi campeã da categoria leve, sub-15, faixa branca. Com apenas seis meses de judô. Já é vista como uma promessa. E não cabe em si. Chora e anuncia o que quer: “Quero ir à Olimpíada. É meu sonho.” Geraldo Rodrigues Silva, de 14 anos, já com o bronze no peito, incentiva os colegas. “Reage, Thago”, grita para Thiago Cruz, que passava dificuldades no tatame. E deu certo, pois o colega reagiu e venceu.

De Itaobim, uma das revelações da competição. Verônica Brazões Xavier, de 22 anos, é campeã da categoria ligeiro. “Tenho apenas seis meses de judô e, agora que ganhei aqui, quero muito mais. Quero ter a chance de chegar à Seleção Brasileira e disputar os Jogos Olímpicos. Gostei do judô, desde o início, pela filosofia, pelos fundamentos, pelos golpes. Essa foi minha primeira competição e espero, muito em breve, estar no Brasileiro.”

Da Escola Padre Francisco, além do ouro de Ana Beatriz, cinco pratas, com Amanda Matos, Geraldo Rodrigues da Silva, Matheus Júnior, Kethleen Lorraine Ferreira Cruz e Anselmo Geraldo Santos, e quatro bronzes, com Samuel Nascimento, Benjamin Martins Jr., Matheus Mendes e Alisson José Lopes.

É hora de ir embora. Almoço para todo mundo e pé na estrada. Os ônibus chegam ao São Geraldo às 23h daquele mesmo sábado. Todos estão contentes.

Sacrifício O Dangai e o Mineiro Sênior de Judô mostraram um raio X da base. O que é preciso fazer para que o esporte continue sobrevivendo? Herivelton Paulo Martins, da Associação Judô Mineiro, de Sete Lagoas, foi para Ipatinga com oito meninos. “Consegui a van emprestada na prefeitura, mas tive de pagar o combustível do meu bolso. É difícil, pois faço parte de um projeto social e não temos dinheiro sobrando. É mais para manter o trabalho. Vale o sacrifício de vê-los competindo pela primeira vez.”

Gilmar de Souza Franco comanda um projeto de extensão da Escola de Educação Física da UFMG, em Teófilo Otoni e Itaobim, Vale do Jequitinhonha. Foi para Ipatinga com sete meninos, que viajaram em uma caminhonete cabine dupla, a noite toda.

Franco, como é conhecido, é um apaixonado pelo judô, tanto que mesmo a base do projeto sendo Teófilo Otoni, duas vezes por semana vai até Itaobim dar aula a apenas dois alunos. “Vale a pena.”

Muito mais acontece nessa região do estado. Ele conta a história de um menino cujos pais são viaciados em drogas e um dos irmãos é traficante. “Ele me procurou pedindo para lutar e se eu podia deixar que ele dormisse na academia, pois não queria mais voltar para casa. Fui até a casa deles e conversei com os pais. Expliquei a situação e ele concordou em seguir em casa. É um dos melhores alunos que tenho.”