sexta-feira, 25 de março de 2011

Brigona na infância, Rafaela Silva leva agressividade das ruas para o tatame


Criada em comunidade carente do Rio de Janeiro, judoca campeã mundial júnior supera dificuldades e transforma vida da família através do esporte




Por Lydia GismondiGloboEsporte.com - Rio de Janeiro

“Muitos amigos da minha infância já morreram ou estão envolvidos com drogas”, conta Rafaela Silva. Hoje, ela comemora ter escapado da estatística. Briguenta, a judoca de 18 anos criada na Cidade de Deus, uma das comunidades cariocas pacificadas, encontrou no tatame uma forma de usar a agressividade a seu favor e afastar o risco de um possível futuro no crime.
Rafaela Silva, judoca (Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
A cara de mau, antes usada para colocar medo nos amiguinhos da escola e da rua, hoje é apenas uma de suas armas nos combates. Cansados de receber tantas reclamações pelo jeito arredio e desobediente da filha, os pais de Rafaela resolveram tentar a sorte colocando a menina de 8 anos para praticar judô em um projeto social perto de casa.
– Eu brigava bastante na rua, na escola e dentro de casa com a minha irmã. Meu pai ficava nos separando e pedindo para a gente parar de brigar. A gente sempre gostou de ficar muito na rua, mas ele dizia que lá a gente não iria aprender coisas boas, que nós tínhamos que procurar um esporte ou fazer um curso – explicou Rafaela, que acabou incentivando a irmã, Raquel, a entrar para o judô também.
Rafaela Silva, judoca (Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Rafaela leva 'golpe' do técnico Geraldo Bernardes
Para quem sempre gostou de brigar, treinar judô parecia a distração ideal. A agressividade da carioca, no entanto, precisou ser moldada ao longo dos anos pelo professor Geraldo Bernardes, ex-técnico da seleção brasileira e seu treinador até hoje.
– O comportamento dela estava difícil de ser domado pelos pais. Eu logo vi que a Rafaela tinha uma agressividade muito grande. Então, nos canalizamos isso para o judô, mas de forma controlada. Percebi que ela tinha potencial e disse que um dia iria colocá-la na seleção – disse o treinador, ressaltando que sua pupila hoje é uma menina centrada, bem diferente de como a conheceu.
O caminho até a seleção, no entanto, não foi fácil. Filha de um entregador de pizza e de uma dona de casa, Rafaela e sua irmã Raquel tinham dificuldades até mesmo para se alimentar. O projeto social de Bernardes, hoje um dos polos do Instituto Reação - idealizado por Flávio Canto, bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 -, também deu assistência à família com doações de cestas básicas e remédios.
Rafaela Silva, judoca (Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Judoca é a inspiração para várias crianças carentes

(Foto: Alexandre Durão / GLOBOESPORTE.COM)
As condições da família de Rafaela melhoraram conforme a judoca foi se destacando nos tatames. Aos 16 anos, em 2008, conquistou a medalha de ouro na categoria peso leve (até 57kg) do Mundial Júnior, em Bancoc. Um ano depois, já brilhava no sênior, garantindo o bronze no Mundial de Roterdã. No mês passado, alcançou mais um resultado expressivo ao ficar em primeiro lugar no Grand Prix de Dusseldorf, deixando pelo caminho a campeã mundial Giulia Quintavalle e a líder do ranking Kaori Matsumoto.
– Graças a Deus, com os patrocínios que consegui, ajudo minha família. Ajudei a comprar a nossa casa, fiz obra para aumentá-la no ano passado e pago as contas – contou orgulhosa a judoca, que não mora mais na Cidade de Deus, comunidade pacificada há dois anos.
O técnico não esconde a satisfação com as conquistas da carioca no judô, mas é da transformação social que ele mais se orgulha.
– Uma das minhas maiores satisfações é ver essa transformação. É fazer com que a Rafaela, que não tinha nenhuma esperança, passasse a ter um propósito na vida. Nós ajudamos a realizar os sonhos das crianças através do judô.
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Rowdy childhood, Rafaela Silva takes aggressiveness of the streets to the mat

Built in disadvantaged community in Rio de Janeiro, world junior judo champion overcomes difficulties and turns of family life through sport 

"Many of my childhood friends have died or are involved with drugs," says Rafael Silva. Today, it celebrates have escaped the statistics. Quarrelsome, the judoka 18 years established in the City of God, one of Rio's communities pacified, found on the mat a way to use aggression to your advantage and avoid the risk of a possible future in crime. 
The face of evil, once used to put fear in school and friends in the street today is just one of their weapons in combat. Tired of receiving so many complaints about the way wild and disobedient daughter, Rafaela's parents decided to try luck putting the girl of 8 years to practice judo in a social project close to home. 
- I struggled a lot in the street, at school and at home with my sister. My father was separating us and asking us to stop fighting. We always liked to stay much in the street, but he said that there we would not learn good things, we had to find a sport or taking a course - said Rafael, who eventually encouraged her sister, Rachel, to join the Judo also. 
For those who always liked to fight, judo training seemed an ideal distraction. The aggressiveness of Rio, however, had to be framed along the years by Professor Geraldo Bernardes, former coach of the Brazilian team and its coach today. 
- Her behavior was difficult to be tamed by the parents. I soon saw that Rafa had a great aggressiveness. So we channeled it to judo, but in a controlled manner. I realized she had potential and said he would one day put her in check - the coach said, noting that his pupil is now a girl-centered, very different from how you met her. 
The road to selection, however, was not easy. Daughter of a pizza deliveryman and a housewife, Rafaela and her sister Rachel had difficulties even for food. The social project of Bernardes, today one of the poles of Reaction Institute - designed by Flavio Canto, bronze in the Olympic Games in Athens in 2004 - and also assisted the family with donations of food parcels and medicines. 
The conditions of the family as a judoka improved Rafaela was standing out on the mats. At age 16, in 2008, won the gold medal in the lightweight category (57kg) Junior World in Bangkok. A year later, he shone in the senior, ensuring the bronze at the World Cup in Rotterdam. Last month, reached a more significant result to be first in Grand Prix de Dusseldorf, leaving the way the world champion Giulia Quintavalle and ranking leader Kaori Matsumoto. 
- Thank God, with the announcements that I could, I help my family. I helped buy our home, I work to increase it last year and paid the bills - said the proud judoka, who no longer lives in the City of God, peaceful community two years ago. 
The coach does not hide his satisfaction with the achievements of the Carioca in judo, but it is the social transformation that he is most proud. 
- One of my greatest satisfactions is to see this transformation. You make the Rafaela, who had no hope, to move to have a purpose in life. We help fulfill the dreams of children through judo.

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